Guerras

Israel: A Guerra Interminável

O Estado de Israel, criado na sequência da IIª. Guerra Mundial, vive desde então em guerra permanente. Este é o preço que tem que pagar pela sua existência? Nada é fácil neste conflito que opõe israelitas e palestinianos.

O conflito interminável entre israelitas e palestinianos, segundo o cartonista brasileiro Joacy Jamys (2006). 

 

Intolerância Religiosa e o Regresso à Terra Prometida

 

Expulsos da Judeia (actual Palestina) pelos romanos, em 70 d.C., os judeus nunca abandonaram a ideia de um dia regressaram à sua Terra de origem. As sistemáticas perseguições religiosas que foram vítimas, durante toda a Idade Média, tiveram o condão de manterem viva a ideia deste regresso à Palestina. 

 

No século XVI, por exemplo, uma portuguesa judaica - Gracia Mendes Nassi (c.1510-c.1569) -, após sair  de Lisboa para fugir às garras da Inquisição, procurou criar as bases de um Estado Judaico na Palestina. 

 

Em finais do século XIX, Theodor Herzl, o criador do moderno sionismo, deu um decisivo impulso ao movimento de regresso à "Terra Prometida", numa altura que os judeus sofriam brutais perseguições na Europa.  

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Resistência Religiosa

Para resistir às ferozes perseguições que eram vítimas, os judeus criaram poderosos processos de resistência e sobrevivência em ambientes hostis, acabando por fechar-se sobre si próprios. Adoptaram, por exemplo, antigas práticas tribais como endogamia, mas também desenvolveram a ideia da sua superioridade "racial" e de uma suposta missão divina. Os chefes religiosos impunham o cumprimento rigoroso de tradições e rituais de forma a manterem unida a comunidade. Mais.

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Durante a Iª. Guerra Mundial (1914-1918), os britânicos que dominavam o Médio Oriente, aderiram à ideia da criação de um Estado judaico na Palestina (Declaração de Balfour, de 2 de Novembro de 1917), contando depois com o apoio de outros países como a França, Itália e os EUA (1918). A própria Grã-Bretanha recebe um mandato internacional para criar as condições para a instauração deste Estado.

 

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Emergência do Estado Judaico

 

Face ao aumento das perseguições de judeus na Europa, nos anos 20 e 30, a ideia da criação deste Estado conquista uma crescente adesão entre os não-judeus. Havia que encontrar um lugar para milhões pessoas perseguidas pela sua religião. 

 

Após a 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), o Holocausto, praticado em diversos países europeus, e não apenas na Alemanha, criou um problema gigantesco - a necessidade de encontrar um território para acolher centenas de milhares de judeus sobreviventes dos campos de concentração.

 

A ONU, a 27 de Novembro de 1947, aprova a partilha da Palestina em dois estados: um palestiniano (muçulmano) e outro judaico. Jerusalém, cidade santa para três religiões (Cristianismo, Judaísmo e Islamismo), ficaria com o estatuto de cidade internacional. Tratava-se de um compromisso entre os antigos ocupantes deste território: os judeus e todos aqueles que aí se haviam fixado ao longo de séculos, nomeadamente os muçulmanos. A solução não agradava a ninguém. Para os judeus, os territórios que lhes haviam sido dados eram insuficientes para acolherem milhões de refugiados. Para os palestinianos tratava-se de uma usurpação intolerável. 

 

Os britânicos temendo uma reacção muçulmana, começaram a protelar as decisões quanto à criação de um Estado para os judeus. Centenas de milhares  de judeus viram-se mais uma vez abandonados. 

 

Perante tantas hesitações, a 14 de Maio de 1948, os 650 mil judeus que se haviam já fixado na Palestina proclamaram a criação do Estado de Israel. 24 horas depois começou a guerra ente judeus e muçulmanos, uma guerra que persiste até hoje..

 

Porto de Abrigo

A Palestina tornou-se no século XX, um verdadeiro porto de abrigo para milhares de judeus vítimas de perseguições por toda a Europa (Alemanha, Rússia, França, Hungria, etc). O Estado de Israel tem as suas raízes nas perseguições religiosas da Europa.  

Na década de 80 dos século XIX, cerca de 25 mil judeus refugiaram-se na Palestina na sequência de brutais perseguições na Rússia. Em 1922 já viviam na Palestina 85 mil judeus, a maioria dos quais refugiados da onda de terror que varreu a Europa Oriental. Entre 1933 e 1939 centenas de milhares de judeus conseguem fugir da Alemanha, muitos dos quais acabam por fixar-se na Palestina. Entre 1939 e 1948 os britânicos procuram limitar a vinda de mais judeus, milhares dos quais acabaram por morrer na tentativa atingirem este porto de abrigo.  

Nos primeiros dias após a criação do Estado de Israel, chegaram 50.000 imigrantes, a maioria dos quais sobreviventes do Holocausto. Até finais de 1951, chegaram mais 687.000, mais de 300.000 eram refugiados dos países árabes. O número dos imigrantes não parou de aumentar, vindos das mais diferentes partes do mundo. A maioria dos quais fugiam a perseguições e humilhações que eram vítimas nos seus países de origem.

 

 

Estado Militarizado

Implantado no coração do mundo muçulmano, o pequeno Estado de Israel foi forçado a adoptar medidas extremas de sobrevivência, acabando por criar uma sociedade fechada sobre si própria. Um verdadeiro gueto :

1. Estado Judaico

De acordo com a constituição, o Estado pertence apenas aos judeus onde quer que se encontrem. 90% do território é propriedade exclusiva de judeus, sendo proibida a venda a não judeus. É por isso que em Israel não há israelitas, mas árabes, drusos, etc. 

2. Direitos Desiguais.

 Apenas os judeus possuem a plenitude dos direitos deste Estado. Os não judeus tem os seus direitos limitados, em particular nos territórios dos judeus, não podendo residir nem exercer certas actividades económicas. A participação política dos não judeus está condicionada à aceitação do princípio da natureza judaica do Estado. A religião, como acontece na República Islâmica do Irão, acabou por determinar os direitos políticos, económicos, etc. dos cidadãos.

3. Regime Militarizado

Face à enorme desproporção demográfica com os estados vizinhos (muçulmanos), o Estado de Israel acabou por gerar uma poderosa organização militar e de espionagem, que implicou a militarização de toda a sociedade, em particular da juventude. 

4. Fronteiras.

 As fronteiras de 1947 estão há muito alteradas pelas sucessivas guerras. Mas quais são as fronteiras de Israel ? Não existe consenso, mas os influentes judeus ortodoxos há muito que defendem que as as mesmas coincidem com as do Reino de David e Salomão. Um delírio capaz de incendiar toda a região. 

O enorme crescimento demográfico dos países muçulmanos, aliado ao facto dos mesmos possuírem as principais reservas de petróleo do mundo, está a tornar a situação do Estado de Israel cada vez mais complicada. A sobrevivência de Israel passa por uma identificação estratégica com o Ocidente, valorizando as suas "raízes judaico-cristãs" através de uma aproximação do judaísmo ao cristianismo.   .

 

 

Uma Questão de Sobrevivência

 

Desde 1948 que os israelitas estão em guerra pela sobrevivência do país. A estratégia assenta numa continua expansão territorial, isolamento no terreno das últimas bolsas de resistência palestiniana e enfraquecimento ou divisão dos seus principais inimigos externos.  

 

Nesta luta pela sobrevivência, onde a capacidade de resistência é um factor essencial, os israelitas têm cometido as mesmas atrocidades que foram vítimas no passado.  

 

Apoios Internacionais

 

A sobrevivência do Estado de Israel não teria sido possível sem fortes apoios externos, e implica nomeadamente uma organização global. Israel continua a contar com um eficaz apoio da solidariedade das diferentes comunidades judaicas espalhadas por diversos países. 

 

Os EUA são desde a IIª Guerra Mundial o seu principal apoio. Neste país, os judeus representam pouco mais do que 2% da população, mas dominam 30% da economia, desfrutando de uma enorme influência na comunicação social e nos meios intelectuais. 

 

Na Europa, onde o número de judeus é muito diminuto, o seu principal apoio deriva do sentimento de culpa que os europeus têm por longos séculos de perseguições e matanças de judeus. Uma situação que não é exclusiva da Alemanha, Rússia, França ou da Hungria, mas extensiva a muitos outros países europeus onde as perseguições também sistemáticas (Espanha, Portugal, Polónia, etc). 

 

No actual contexto demográfico europeu, Israel sabe que já não pode contar com o apoio que teve no passado. O crescente peso dos muçulmanos em França, por exemplo, está a condicionar a sua política externa, nomeadamente no apoio que este país dava ao Estado de Israel. O mesmo está a acontecer, embora em menor proporção, na Alemanha, Grã-Bretanha e Espanha, onde as comunidades muçulmanas são muito significativas.

 

Guerras e Mais Guerras

É enorme a desproporção entre os judeus e os seus vizinhos muçulmanos. Esse facto deu no início aos países muçulmanos uma enorme confiança que acabariam em pouco tempo com o Estado de Israel. A partir da década de 70 passaram a recorrer sobretudo a acções de natureza terrorista.

1948. 24 horas após ter sido criado, o Estado de Israel é invadido pelos exércitos regulares de Egipto, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque. A guerra só termina em 1949, com uma nova configuração das fronteiras.

1956. Uma aliança entre o Egipto, Síria e Jordânia proclama internacionalmente o fim do Estado de Israel. Pouco antes de ser invadido, as tropas israelitas avançam e derrotam as forças inimigas. A paz só voltou meses depois. 

1967. Uma nova invasão é anunciada. O Egipto lidera de novo uma aliança com a Jordânia e a Síria para riscar do mapa Israel. Pouco antes da anunciada invasão, Israel ataca e destrói os exércitos inimigos. A paz tardou em voltar.

1973. O Egipto, a Síria e a Jordânia lançaram-se numa nova invasão, mas desta vez de surpresa. Como nas vezes anteriores, acabam por ser derrotados. A paz levou anos a ser atingida: Egipto (1979), Jordânia (1994).

1978. O Líbano, embora tenha participado na invasão de 1948 de Israel,  manteve alguma neutralidade durante décadas. A partir do inicio década de 70  passa a ser utilizado como um base para ataques terrorista contra Israel por parte dos palestinianos. Face a esta situação, Israel vê-se obrigado a invadir o Líbano, primeiro em 1978 e depois em 1982 quando mergulhou num verdadeiro caos. Em 2000 retira-se sem ter conseguido acabar com os grupos terroristas locais. 

2002.Inicio da construção de um muro defensivo ao longo da fronteira do Estado de Israel. O objectivo é o de impedir os ataques suicidas. A sua extensão global é de 700 km.

2006. O Líbano está transformado num Estado fantasma, controlado desde os anos oitenta por uma organização terrorista - Hezbollah (Partido de Deus) - armada e financiada pelo Irão e a Síria. Em 2006 atacou Israel com misseis iranianos, lançando desta forma o Libano em mais uma onda de morte e destruição.  

Terrorismo. A partir da década de 1970 que a guerra contra Israel passa a ser feita de forma sistemática através de acções terroristas praticadas em Israel e no exterior. Em 1977, por exemplo, foi assassinado em Lisboa o embaixador israelita.

Estas organizações terroristas, como o Setembro Negro, Abou Nidal, Hamas, Hezbollah, financiadas por vários países árabes, passaram a actuar segundo uma estratégia mais global de ataque aos valores do mundo ocidental. Israel tornou-se para o mundo islâmico, no símbolo do Ocidente e tudo o que de negativo lhe é atribuído. 

Uma Guerra Anunciada. Mais ano menos ano a guerra irá eclodir, entre Israel e os países muçulmanos da região.

O Irão desde 1978 que afirma a sua intenção de destruir o Estado de Israel. Em 2006 relançou o seu programa nuclear.

A Síria não esconde idênticos objectivos, só espera por uma boa oportunidade. A paz nunca foi estabelecida com Israel e a questão dos Montes Goulã está em aberto. 

Outros países, como o Egipto, Jordânia ou mesmo a Turquia, a sua contenção é paga a peso de ouro pelos EUA. Uma posição sentida como humilhante pela população, o que estimula a propagação de movimentos radicais islâmicos, cujas acções terroristas são cada vez mais dirigidas também contra os cristãos.

O caos em que o Iraque mergulhou joga por enquanto a favor de Israel, mas o futuro é uma enorme incógnita. Se os radicais ganharem a Guerra, a situação será trágica.

Enquanto a guerra não é declarada, acções terroristas financiadas por estes países procuram desestabilizar Israel, o inimigo comum a riscar do mapa. 

 

Carlos Fontes

 

 

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Palestinianos: o drama de um povo

Depois da 2ª. Guerra Mundial, os povos  que habitavam a Palestina, maioritariamente muçulmanos, viram-se desapossados das suas terras e casas.

Os novos senhores -  os judeus -, reclamaram a anterioridade da posse daqueles territórios. Deus, afirmam, confiou-lhes aquele solo sagrado, sobre o qual os reis David e Salomão criaram um próspero reino. A legitimidade para esta ocupação decorria também de consensos internacionais.

Colocadas as coisas desta forma, a única alternativa que restou aos palestinianos foi declararem  guerra aos invasores. Havia milhares de anos que habitavam aqueles territórios. Mais

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