"África para os Africanos, Europa para os Europeus"

 

     
   

 

Um dos maiores paradoxos dos nossos tempos, marcados pela globalização, é a persistência dos discursos etnocentricos.  Ao mesmo tempo de se assiste à liberalização dos mercados, que os países europeus ensaiam a construção de sociedades multiculturais e raciais, reclama-se em muitos outros do mundo, sobretudo em África a simples expulsão dos estrangeiros sejam eles brancos ou de de outra cor qualquer. 

A África oferece o melhor exemplo destas tendências contraditórias.

Contradições

Do Norte ao Sul de África, continua a reclamar-se a África para os africanos.Moammar Khadafi (Líbia) e Robert Mugabe (Zimbabué) estão longe de serem casos isolados neste continente, quando exigem a expulsão dos brancos e a devolução das terras aos negros. A luta de Nelson Mandela e do ANC contra o Apartheid na África do Sul é ultimamente apresentada como um argumento para legitimar estas medidas de natureza racista e xenofoba.

Ao mesmo tempo, de Norte a Sul de África defende-se igualmente a abertura das fronteiras da Europa e da América a milhões de emigrantes africanos. Apela-se ao fim do proteccionismo e subvenções aos agricultores nos países mais desenvolvidos de modo a apoiar as exportações dos agricultores africanos. Reclama-se também o aumento das ajudas às suas frágeis economias, não apenas em termos financeiros, mas também do saber e saber-fazer desenvolvido nos países mais desenvolvidos. 

Muitas vezes reclama-se o apoio de organizações e quadros, que em tempos foram expulsos como indesejáveis no continente africano. 

Memórias 

Na base destas aparentes contradições continuam os traumas da brutal colonização europeia. Durante séculos, os europeus viram apenas nos africanos (árabes ou negros) mão-de-obra para as suas necessidades. Questionaram-se se os mesmo teriam "alma" ou "inteligência" para poderem ser considerados seres humanos. O Continente Africano foi objecto de um verdadeiro saque por parte das potências coloniais, que se limitavam a distribuir migalhas pelos povos locais, escravizados na sua própria terra. Tratam-se de memórias traumáticas ainda muito vivas, que levarão gerações a desaparecer.   

Alternativas

A única saída que resta às sociedades africanas, como a todas as outras, é se quiserem sair do ciclo de pobreza em que se encontram tornaram-se sociedades abertas, multiculturais. A riqueza das nações, como mostra a História da Humanidade, está na abertura ao exterior e na partilha de saberes, sem a qual não é possível desenvolver o espírito critico e criativo nos povos. Esta é a condição indispensável de todo o progresso.

Mas para que esta abertura se possa fazer, sem que os países africanos de tornem uma presa fácil das economias dos países mais desenvolvidos, estes precisam de criar uma organização social mais desenvolvida e participativa, capaz não apenas de regular as diversas lógicas de interesses em conflito, mas também de criar as condições para a melhoria de vida da população. 

Carlos Fontes    

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