Director: Carlos Fontes

 

 

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Porquê Salazar ?

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  Trinta e três anos depois do derrube da ditadura (1926-1974), a figura do ditador Oliveira Salazar (1889-1970) volta fascinar algumas cabeças que andam à deriva. 

Um dos sintomas desta situação ocorreu quando a RTP organização um concurso televisivo para "saber" quem tinha sido o melhor português de sempre. Umas dezenas de milhares de votantes deram a vitória ao ditador (26/3/2007). As livrarias encheram-se de reedições obras de propaganda da ditadura e outras que se apressaram a branquear a história do ditador.

É dificil determinar a expressão sociológica desta escolha no conjunto da população portuguesa. As generalizações são neste domínio abusivas. 

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Algumas figuras que os canais de televisão deram certa notoriedade pública manifestaram nesta ocasião a sua adesão à ideias do ditador. 

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  Portugal da Ditadura / Portugal depois da Ditadura

Todos os indicadores económicos, sociais e culturais são coincidentes num ponto: A situação da maioria da população portuguesa é hoje incomparavelmente melhor do que era  durante a ditadura. Ninguém pode afirmar o contrário, a não ser por ignorância ou má fé. 

O que continua a fascinar tantas mentes perturbadas ? 

Analisando os discursos dos "salazaritas" é frequente a evocação de um mítico passado, que teria sido destruído pelo actual regime democrático: 

- Nostalgia do Império: A propaganda da ditadura repetiu até à exaustação que o povo português estava orgulho do seu vasto império colonial e não se furtava a sacríficios para o manter. O balanço deste orgulho nacional é conhecido: milhares de mortos e estropiados e um país empobrecido pelo esforço de manter a todo o custo o Império.

- Nostalgia da Ordem: Portugal era mais o seguro país do mundo afirmava a propaganda da ditadura. Embora os criminosos fossem poucos, as prisões estavam cheias de presos políticos. Uma vasta rede de bufos espiavam a população à procura de "elementos subversivos" da Ordem Pública.

- Nostalgia da Identidade Nacional. Durante a ditadura Portugal não era um país de imigrantes, mas de emigrantes. Muitos poucos o procuravam para residir e trabalhar. Dada a escassez de imigrantes não existia o medo da perda da Identidade Nacional que tanto hoje assusta os "salazaristas". O drama é que milhões de portugueses tiveram que sair das suas terras para o estrangeiro à procura de melhores condições de vida. Apesar da esmagadora maioria gostar da sua terra e a ela se sentir emocionalmente ligada, dificilmente se poderiam sentir safisfeitos com o rumo do país e do facto de serem portugueses. O resultado foi a criação de uma mentalidade fechada e povoada de complexos de inferioridade que continua a condicionar a afirmação de Portugal no mundo.

Há nos discursos "salazaristas" acusações mais explicitas contra casos do actual regime democrático, aos quais se contrapõe os "brilhantes" exemplos da ditadura.

- Corrupção. Proliferam por todo o país os casos de corrupção, nomeadamente nas autarquias, onde políticos incompetentes ligados a bandos de mafiosos lançaram o caos urbanístico, pondo em causa a qualidade de vida actual e das futuras gerações. A constatação é verdadeira, mas de pouco serve evocar a figura de um ditador cuja propaganda afirmava ser impoluto. Nada nos garante que a corrupção não fosse idêntica na administração pública, embora mais discreta. 

- Contas Públicas. O descalabro actual das contas públicas é conhecido, não há que negar a evidência. A receita de Salazar não é solução - um país empobrecido com enormes reservas de ouro. O Estado está ao comunidade, não o contrário. A solução passa por outros caminhos que não o regresso ao nero passado.

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  O Que Falhou ?

No terreno da retórica política, o regime democrático em Portugal tem falhado de forma desastrosa. A maioria dos políticos portugueses veicula mensagens muito pouco mobilizadoras das capacidades e energias do país. 

Nos últimos anos o povo português tem sido objecto de uma verdadeira humilhação , algo que seria impensável durante a ditadura. Jornais de grande difusão e vários políticos insistem em apontarem de forma leviana e masoquista um futuro negro para o país, advogando inclusivé a sua auto-destruição numa hipotética "Federação Ibérica" ou integração na Espanha (consultar). Chegou-se ao ponto de na Assembleia da República se permitir a existência de deputados (ex-comunistas) comprometidos com a defesa de grupos espanhóis ou de ministros manifestarem publicamente as suas convicções iberistas.

Desta forma as mais elevadas instâncias políticas do país minaram o Orgulho Nacional, isto é, a identificação afectiva com uma história, uma pátria e um projecto colectivo mobilizadora de vontades e energias.

Perante estes exemplos degradantes dados por políticos mediocres e corruptos muitos portugueses viraram-se para o passado, procurando exemplos que lhes aumentassem as suas expectativas sobre o futuro do país. Colocadas as coisas neste ponto não admira que os discursos nacionalistas da ditadura tenham acabado por despertar algum fascínio em  sectores da população mais descontentes com a actual situação política.

P.S.: Se Salazar "ganhou" o concurso do "melhor português de sempre", os organizadores de outro concurso que ocorreu na mesma altura tiveram que manipular os dados para que Mário Soares (um das figuras centrais da democracia depois de 1974) não tivesse sido eleito o pior português de sempre.

Continua !

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