Director: Carlos Fontes

 

 

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Economia

 

 
 

1974-1985

O fim do Império colonial, em 1974, constituiu uma das mais radicais transformações económicas que Portugal conheceu desde a sua independência em 1143. Toda a economia num curto espaço de tempo, fica sem os enormes mercados coloniais às sombra dos quais tinha vivido desde o século XV. Os principais grupos económicos são primeiro desmantelados e depois nacionalizados. O desemprego não pára de crescer, agravado por cerca de um milhão de "retornados" das ex-colónias e depois por vagas de imigrantes clandestinos e refugiados das guerras.

Apesar desta complexa situação, todos os indicadores sociais melhoraram. Registou-se inclusive uma melhoria muito significativa no rendimento e nas condições de vida da população. 

 

 

1986-1999

A entrada de Portugal para a CEE, a 1 de Janeiro de 1986, marca uma viragem profunda na economia. Nada voltou a ser como dantes:

. Privatização. As empresas públicas que chegaram a representar mais de 50% do PIB, foram sendo progressivamente encerradas ou privatizadas. Vinte anos depois restava apenas um núcleo muito pequeno de empresas controladas pelo Estado.

. Agricultura. Este sector foi completamente desmantelado. No início dos anos 80 cerca de 30% da população activa trabalhava nos campos. Vinte anos depois não representa mais do que 4%. Vasta áreas agrícolas foram abandonadas. Muitas aldeias desapareceram ou converteram-se em locais turísticos.

. Pescas. O importante sector das pescas portuguesas, começou a ser desmantelado. Vinte anos este sector é uma sombra daquilo que em tempos representou para a economia do país.

. Transportes marítimos, Industria de construção e reparação naval. Durante séculos foi uma das mais importantes do país, mobilizando e gerando enormes recursos. Vinte anos depois é um sector completamente desmantelado. Muitas docas e estaleiros estão transformados em locais de lazer

. Transportes ferroviários.  As estradas eram más, mas a rede de caminhos de ferro era ampla e cobria todo o país. Vinte anos depois, a rede de caminhos de ferro diminuiu, sendo os transportes de passageiros e mercadorias cada vez mais por rodovias.

. Industrias de mão-de-obra intensiva. Numa primeira fase, Portugal foi ainda inundado de empresas de países da CEE que aqui se instalaram para explorarem as condições excepcionais que lhes eram oferecidas: ajudas económicas e baixos salários dos trabalhadores. O sector da industria textil, vestuário e o do calçado registaram então  aumentos significativos. A prazo, sabia-se todavia que estas empresas acabariam por partir para outros locais onde a mão-de-obra fosse ainda mais barata. Vinte anos depois sucedem-se os encerramentos ou deslocalizações destas empresas.

Neste período a qualificação da mão-de-obra estava longe de ser um factor decisivo em termos de competitividade. Os principais sectores da economia assentavam nos seus baixos custos. Factor que terá levado uma parte da população a desvalorizar a própria importância da educação, e as empresas secundarizavam a formação. Apesar de tudo registaram-se enormes  progressos em termos de escolarização.  Os enormes investimentos feitos na formação profissional foram, na maioria dos casos, desperdiçados. 

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2000- 2006

Após a adesão à moeda única, o Euro, em 2000, o principal factor competitivo da economia portuguesa - baixos salários pagos numa moeda fraca - desapareceu. 

Assistiu-se então ao encerramento de inúmeras empresas nacionais e estrangeiras que exploravam em Portugal os baixos salários. O alargamento da União Europeia acabou por incentivar também o deslocamento das empresas para o leste da Europa, onde os salários são muitíssimo mais baixos do que em Portugal. A entrada em força dos produtos chineses (2003), acabou por ditar o fim das empresas que produziam produtos de baixo valor acrescentado. 

Paralelamente, com a substituição do escudo pelo euro, o portugueses passaram a ter uma moeda forte e um crédito barato. A principal consequência foi o aumento das importações e o aumento do turismo no estrangeiro. O endividamento das famílias disparou.  

A estruturas das exportações portuguesas mudou completamente nos últimos anos. Desde os anos 60 do século XX, o principal sector exportador era o textil-confecções, mas hoje ocupa apenas o 3º. lugar, vindo a perder crescente importância.

O principal sector exportador, em 2006, é o das tecnologias intermédias (máquinas, máquinas-ferramentas, etc).    

Economia Portuguesa-2004*: 

Serviços: 69% do PIB (produto interno bruto)

Construção e obras públicas: 7% do PIB 

Agricultura, silvicultura e pescas: 2,9 % do PIB

Electricidade, gás e água: 2,9% do PIB

Indústria: 17,3% do PIB. A fileira têxtil, vestuário e calçado, assente na mão-de-obra intensiva, não tem parado de diminuir a sua importância na formação do PIB. 

*Fonte: Banco de Portugal

Economia paralela: 20 a 25 % do PIB.

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Sectores em Mudança

A economia portuguesa desde 2000 está praticamente estagnada, mas no país alguns sectores estão visivelmente melhores, nem sempre pelas melhores razões.

. Habitação. Cerca de 70% da população vive em casa própria. 1/3 das famílias tem uma segunda habitação na praia ou no campo. A renovação do parque habitacional é uma realidade na maioria das regiões do país. A oferta de casas excede largamente as necessidades. Enormes oportunidades de negócio abrem-se agora na área da conservação e restauro, assim como na re-qualificação urbana. Um dos graves problemas que há que resolver é a enorme pulverização de empresas de construção civil, mais de 49 mil, que empregam mais de 600 mil pessoas. A larga percentagem destas empresas funcionam de forma caótica e frequentemente à margem da lei (fogem aos impostos, não pagam aos trabalhadores, etc).  (Dados de 2005)

. Automóveis. Durante muito tempo foi um indicador de desenvolvimento, hoje nem tanto. Constata-se todavia que o número de automóveis por habitante em Portugal é superior à esmagadora maioria dos países da UE, ultrapassando os EUA. Em termos produtivos o sector automóvel, apesar de algumas importantes quebras nas exportações e nas unidades produtivas, tem vindo a ajustar-se ao aumento da concorrência internacional. 

. Portos, aeroportos e vias de comunicação. Portugal é hoje um dos países da UE com a maior densidade de auto-estradas, e dentro em breve todas as capitais de distrito estarão ligadas por uma moderna  rede de comunicações. 

As estruturas portuários são magnificas, embora sofram de um problema comum: uma gestão deficiente. A má gestão associada à burocracia faz disparar os custos, diminuindo a competitividade dos portos portugueses.

. Transportadoras. Á medida que o transporte ferroviário ía sendo abandonado, as empresas de transporte foram crescendo, tendo hoje uma posição de desataque na Península Ibérica.

. Distribuição de produtos. O comércio tradicional está a desaparecer, mas o número de centros comerciais, hipermercados, redes de lojas de distribuição colocam Portugal acima da média da UE. Em termos de logística comercial o salto qualitativo foi enorme. Algumas empresas portuguesas somam êxitos internacionais nesta área.

. Bancos. O país está em crise, as famílias estão endividadas, mas os lucros dos bancos não param de crescer (50% em 2004). O sector financeiro está ao nível do melhor em termos internacionais.

. Turismo. A oferta turística de Portugal diversificou-se e subiu muito em qualidade. Os equipamentos turísticos existentes ou em construção estão a nível do que existe de melhor no mundo. Uma percentagem significativa da população portuguesa também não prescinde hoje de fazer férias no estrangeiro.

. Telecomunicações. Portugal tem neste domínio excelentes indicadores, na rede fixa, banda larga, telemóveis, serviços electrónicos, etc, etc. O problema não está nas infra-estruturas, mas na sua utilização massiva pela população e as empresas.

. Novos produtos industriais. industria do papel, moldes de plástico, automóveis, software, aviões ligeiros, etc..

. Produtos tradicionais. Vinhos, azeites, leites, frutas, legumes, café, cortiça, madeira, carne de porco, etc. Os problemas estruturais da sociedade portuguesa, nomeadamente a desertificação do interior e baixas taxas de escolaridade da população activa, fazem-se sentir de modo particular no desenvolvimento deste sector. Apesar disso muita coisa tem mudado. 

Os vinhos portugueses estão hoje classificados entre os melhores do mundo. A aposta na qualidade foi plenamente ganha. 

A partir dos anos 60 deixou-se de investir no olival. Portugal de país exportar mundial de azeite passou a importador. Uma situação bizarra, dados os enormes apoios financeiros concedidos depois de 1986 à agricultura. A situação só começou a ser alterada nos últimos anos, nomeadamente em certas zonas do Alentejo e Trás-os-Montes, mas também na Cova da Beira e Idanha-a-Nova. 

A produção silvícula continua a ser muito importante, não apenas no sector da cortiça, mas também produção de madeira para pasta de papel, aglomerados, etc. Trata-se de um sector com enormes potencialidades, mas que exige uma reorganização total da floresta. 

O sector da cortiça, depois de um período de estagnação mostra sinais de uma nova dinâmica. É a única área económica em que Portugal é lider a nível mundial, concentrando 54% da produção e 70% da transformação. Representa 2,7% do total das exportações nacionais. 90% da cortiça transformada é exportada. Existem cerca de 900 empresas, com um total de 14 mil trabalhadores. (Dados de 2006)

. Pescas. O sector das pescas, constituído por cerca de 10 mil embarcações artesanais, polivalentes e artesanais (Dados de 2006), apesar de todos os apoios do Estado e da UE continua a carecer uma mudança profunda. Rios de dinheiro foram esbanjados nos sucessivos planos de reorganização da frota. 

A empresa pública que gere as lotas - a Docapesca - , após anos de uma gestão errática e incompetente não tem parado de acumular de prejuízos. O seu futuro é mais do que incerto. A Docapesca gere 20 lotas e cerca de 50 postos de venda em pequenas comunidades piscatórias, para além de uma rede de armazéns e outros apoios às actividades do sector.

Em Portugal, o consumo de pescado fresco ou refrigerado é 180,4 mil toneladas (peso na descarga), e desta quantidade, as importações atingem cerca de 56,5 mil toneladas. A aquicultura contribui com 6,5 mil toneladas de pescado (dados de 2006).

Embora o quadro geral do sector das pescas seja negro, em algumas áreas foram dados importantes passos para alterar a situação. 

. Energia. Após anos e anos de incúria o sector da produção de energia eléctrica finalmente começa a mudar, através de uma aposta forte no domínio da produção de energias renováveis (não fósseis). 

Crescimento do PIB Português

Entre 1960 e 1970 foi superior a 7% ao ano,

Entre 1970 e 1980 andou acima dos 4%

Entre 1980 e 1990 foi superior a 3 %

Entre 1990 e 2000 andou próximo dos 3%

Entre 2000 e 2005 ficou-se em 0,6%.

 

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Bloqueios

. Administração pública. Os serviços públicos (centrais ou locais) não foram capazes de acompanhar as mudanças que ocorreram no país. Herdeiros de uma tradição colonial continuaram distantes da população e das suas necessidades. Na saúde, educação ou gestão local, por exemplo, presta um serviço mediocre face aos enormes recursos que consome. Toda a administração pública portuguesa está repleta de dirigentes incompetentes, serviços e procedimentos inúteis.  Nestas condições o Estado português, em vez de ser um factor de progresso, tornou-se num obstáculo ao desenvolvimento. As esperanças do país estão hoje concentradas nas reformas em curso (Sócrates 2006 - ). 

. Gestão. Continua a predominar entre os empresários e gestores portugueses uma mentalidade pouco aberta ao risco e inovação, o que se traduz por uma total incapacidade para tirarem partido do enorme potencial do país em termos de recursos humanos altamente qualificados. A ligação entre as empresas e as universidades praticamente não existe. A investimento privado em investigação e desenvolvimento é irrisório.

Mal aumentou a concorrência externa, sobretudo a partir dos anos 90, uma larga percentagem dos empresários portugueses preferiu vender as suas empresas ou negócios a estrangeiros e preparou-se para viver dos dinheiro obtido. Este é o resultado de terem vivido quase sempre à sombra do Estado que lhes garantia um mercado protegido sem grande concorrência externa.   

. População Activa. As profundas mudanças económicas atingiram de forma particularmente violenta a população activa com baixos níveis de escolaridade, a qual passou a concorrer no mercado de trabalho com imigrantes de todo o mundo. A educação só agora começou a ser um capital socialmente valorizado pelas famílias.

. 20 % em risco. 1 / 5 da população portuguesa apresenta graves problemas de inserção social ou dificuldades em acompanhar as mudanças em curso. As causas são múltiplos: baixa escolaridade, idade avançada, isolamento, dificuldades de integração social de minorias etnicas (ciganos, africanos), etc.

. Educação/Formação . Portugal vive  em matéria de educação/cultura a duas velocidades: a população com mais idade tem uma escolaridade baixíssima, mas a mais nova está dentro das médias da UE. Os rácios professores/alunos são um luxo a nível mundial. 

No ensino secundário, por exemplo, há 1 professor para cada 8 alunos !. Em temos globais, no ensino não superior existe 1 professor para menos de 10 alunos. 

O ensino superior possui hoje uma excepcional rede de estabelecimentos, cobrindo todo o país, com um claro excesso de professores para o número de alunos. O problema neste sector não é a falta de recursos, mas o mal que padece toda a administração pública: uma gestão incompetente e partidarizada. 

Carlos Fontes

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