Director: Carlos Fontes

 

 

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A Mudança da Administração Pública é uma Tarefa Impossível? 

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Neste inicio do IIIº. Milênio,  os portugueses redescobrem aquilo a que há muito se habituaram: Portugal possui uma administração pública ineficaz e ineficiente que constitui um dos maiores obstáculos ao seu desenvolvimento. Lendo o que tem sido ultimamente escrito e dito na comunicação social registam-se os seguintes pontos consensuais:

1. A administração pública portuguesa absorve grande parte dos recursos  do país, sem que daqui advenham qualquer melhoria da qualidade nos serviços prestados aos cidadãos. A ideia que continua a persistir é que fazer mais e melhor, implica necessariamente mais funcionários, serviços, recursos financeiros, etc.  Inovação, Simplificação, Desburocratização e Qualidade são conceitos que ainda carecem de sentido.

2. A maioria dos dirigentes (presidentes de Institutos públicos, directores-gerais, chefes de serviço, chefes de divisão,etc) revelam-se totalmente incompetentes para os cargos que desempenham, sendo incapazes de promoverem a melhoria da qualidade dos respectivos serviços. A única preocupação que parecem ter é a de manterem as coisas como estão o máximo de tempo possível, e simultaneamente conseguirem o máximo de mordomias possíveis (carros, gasolina, telefones gratuitos, gratificações extras, empréstimos sem juros, chorudas reformas  antecipadas, etc, etc.). 

3. A maioria dos funcionários públicos, continua a encarar o Estado como um emprego estável que um dia lhes garantirá uma reforma segura. Limitam-se a trabalhar o  estritamente indispensável para justificar o ordenado que recebe ao fim do mês. Ora como consideram que são mal pagos, o que produzem é o mínimo imprescindível para assegurar o funcionamento dos serviços.  À semelhança dos dirigentes públicos procuram também retirar o máximo partido da situação em que se encontram (os assuntos particulares são tratados durante a hora de serviço, um grande número possui outros  empregos,  os telefones públicos são utilizados indescriminadamente para uso particular, etc).  

4.Um número muito significativo destes funcionários, pura e simplesmente deixou há muito de trabalhar. Acha que pelo facto de existirem e pertencerem ao quadro de efectivos do Estado, os contribuintes tem que os remunerar. Para isso contam para a colaboração de médicos corruptos que lhes passam atestados médicos, tantos quantos os necessários, mas também com a conivência de dirigentes laxistas que acomodaram a situação para não provocarem conflitos laborais, e por último com a defesa corporativa de comissões arbitrais, comissões de trabalhadores, sindicatos. Com todo o tempo do mundo, muitos tornaram-se frequentadores assíduos de acções de formação, colóquios, conferências, mestrados, etc. Apesar de tudo isto, são classificados invariavelmente como excelentes no seu desempenho profissional, ascendendo aos mais elevados cargos da administração.

Continuam a ser raros aqueles que  nesta lógica de funcionamento da administração pública se vêem como profissionais, ao serviços de uma nobre missão: a colectividade de que fazem parte enquanto cidadãos.

O retrato é conhecido, e a sua fidelidade à realidade regista uma largo consenso na opinião pública. Também são conhecidas e documentadas as consequências desta lógica de funcionamento. Ora neste tipo de análises omite-se sistematicamente a questão da preparação e formação destes dirigentes e funcionários. Dir-se-ía pelos resultados que nada tem sido feito, o que não é de todo verdade. 

O investimento na formação do funcionários públicos tem sido enorme. Em muitos ministérios financia-se quase tudo: acções de formação internas e externas, cursos superiores, pós-graduações, mestrados, doutoramentos, etc.

Existe todo um vasto conjunto de instituições públicas exclusivamente destinadas à formação dos funcionários públicos a todos os níveis (Instituto Nacional de Administração-INA, Instituto de Formação Autárquica, etc). Para além destes é preciso recordar que em todos os ministérios e na maioria das câmaras municipais do país existem serviços próprios de formação para o respectivo pessoal. 

Existem diversas organizações públicas destinadas ao estudo e desenvolvimento de programas de modernização administrativa, como o Secretariado de Estado Para a  Modernização Administrativa que realizam um impressionante número de acções de estudo, sensibilização e formação neste domínio.

A componente da formação e respectivo enquadramento organizativo está aparentemente assegurada. 

Apesar de tudo isto, os resultados medidos em termos da melhoria do funcionamento dos serviços são reconhecidamente maus. Algo está a falhar estrondosamente. Os investimentos realizados em estudos e na formação não se repercutem em melhorias sensíveis no funcionamento do Estado. Ninguém aliás parece se preocupar com o assunto, dado que nenhuma avaliação rigorosa é feita, nem se tomam medidas para corrigir o que está mal. Estamos no reino do faz de conta. A manter-se esta lógica de funcionamento, temos que concluir que a reformar a administração pública portuguesa é uma tarefa impossível. 

Lisboa, Julho de 2000

Carlos Fontes

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