Director: Carlos Fontes

 

 

PORTUGAL 

Empresas de Capital Público e Empresas Municipais

 
 

Em Construção !

 

1. Empresas Públicas

1.1.Nacionalizações

A seguir ao 25/4/1974, no curto espaço de dois anos, o Estado nacionalizou vastos sectores da economia. As empresas nacionalizadas foram, na maior parte dos casos, transformadas em empresas públicas (DL 260/76, de 8 de Abril). O modelo económico que se começou a configurar, defendido pelo PCP e o MFA (Movimento das Forças Armadas) era de uma sociedade a "caminho do socialismo". Princípio que ficou consagrado na Constituição, assim como a irreversibilidade das nacionalizações.

Acontece que os principais partidos representados na Assembleia da Republica - o PS e o PSD -, não concordavam com este modelo económico, nem sequer com a criação de uma sociedade socialista.  

1.1.1. Críticas

As empresas públicas passaram a ser o palco privilegiado dos principais conflitos políticos, nomeadamente para os ataques ao modelo económico que se havia prefigurado em 1975. 

Não tardaram em serem tomadas pelos partidos políticos, que as passaram a usar como uma das suas principais fontes de financiamento e de distribuição de cargos (=rendimentos) pelos seus militantes. 

A maioria dos gestores públicos nomeados eram manifestamente incompetentes e corruptos, limitando-se a servirem os respectivos partidos que os nomearam, mas também capitalistas que apostavam na ruína destas empresas para depois as puderem adquirirem a baixo custo. Muitos deles acabaram a abraços com a justiça quando deixaram de ter o chapéu protector das empresas publicas.

As enormes regalias que eram concedidas aos gestores e  trabalhadores, contribuíram para o seu descrédito junto da população, o que facilitou o posterior processo de alienação.  

1.2. Privatizações

O processo de privatizações avançou de forma decisiva após a revisão da Constituição de 1989, que aboliu o princípio da irreversibilidade das nacionalizações. A Lei nº11/90, de 5 de Abril, permitiu a privatização total de todas as empresas controladas pelo Estado, tenham ou não resultado de nacionalizações. 

Os governos do PSD (Cavaco Silva e Durão Barroso ), mas também do PS (António Guterres), iniciaram um vasto processo de privatizações das empresas públicas, sob o pretexto que dessa forma seriam criados grandes grupos económicos nacionais,  se aumentaria a concorrência interna, o que provocaria um abaixamento dos preços para os consumidores.

O que aconteceu é que as empresas após terem sido privatizadas, os seus novos detentores, trataram logo de as vender a grandes grupos internacionais. Não se assistiu a qualquer redução dos custos para os utilizadores/consumidores.

Um dos primeiros casos de pura especulação foi o que ocorreu com a privatização do Banco Totta & Açores(1989), que envolveu entre outros António Champalimaud e vigaristas espanhóis como Mário Conde (Banesto). O Banco português acabou por ser extinto e absorvido pelo Santander... Cavaco Silva, então primeiro-ministro, foi quem geriu esta trapalhada.

Algumas das grandes empresas portuguesas adquiridas por estrangeiros foram simplesmente desmanteladas, para evitar que pudessem vir a fazer concorrência aos grupos internacionais que as haviam adquirido.

1.2.1. Direitos Especiais

Em sectores estratégicos, como a energia, petróleos e comunicações, o Estado negociou a criação de direitos especiais nas empresas que privatizou. Tratam-se de um conjunto de acções que supostamente, segundo a lei portuguesa, daria ao Estado o privilégio de impedir a sua venda ou alienação a grupos estrangeiros, em empresas estratégicas:

 

- EDP / REN

- GALP

- Portugal Telecom

 

Ao longo dos anos, políticos e gestores públicos corruptos, foram  preparando o controlo destas empresas por grupos espanhóis de forma a que estes pudessem aniquilarem sectores estratégicos da economia portuguesa, passando os centros de decisão para Madrid. 

 

Uma estratégia de subtil corrupção usada pelos grupos espanhóis consiste em darem emprego nas suas empresas a deputados, ex-ministros e lideres partidários portugueses. A esmagadora maioria passa depois a funcionar como "cavalos de Tróia" espanhóis no Estado português.

 

1.3. Principais empresas públicas em Portugal em 2011:

O núcleo de empresas do Estado é hoje muito reduzido, não tendo paralelo com o que foi no passado:

 

a) Transportes ferroviários: REFER- Rede Ferroviária Nacional, CP, 

b) Transportes Aéreos: ANA, TAP, SATA, 

c) Transportes Urbanos: Carris (Lisboa), Metropolitano de Lisboa, Metropolitano do Porto

d) Estradas: Estradas de Portugal

e) Construção e Reparação Naval: Alfeite, Estaleiros Navais de Viana do Castelo

f) Agricultura: Companhia das Lezírias

g ) Águas: Epal,

h) Correios: CTT

j) Rádio, Televisão, Publicações: RTP, RDP, INCM

l) Gestão de activos financeiros: Parpública 

m) Banca: Caixa Geral de Depósitos, Banco de Portugal

 

1.3.1. Transferências do (ou para o ) Orçamento de Estado 

 

A privatização das empresas públicas foi apresentada pelos diversos governos, não apenas como uma forma de melhorar a sua gestão, mas igualmente como um meio de reduzir a divida publica do Estado. 

 

Não deixa de ser paradoxal que à medida que as empresas publicas foram sendo privatizadas, foi subindo a dívida publica. 

 

Dado que estas empresas estão ligadas a grandes investimentos públicos ou prestam serviços deficitários, as mesmas absorvem enormes fatias dos fundos comunitários. Um facto que provoca a ira dos privados e dos neoliberais.  

2. Posições Ideológicas

a) Comunistas:

O PCP foi e é o principal defensor das empresas públicas, sob o lema: " O que é nacionalizado é nosso". De um ponto de vista ideológico, os comunistas desconfiam do mercado e da iniciativa privada, associando os grandes empresários bandos de malfeitores e especuladores, indiferentes aos interesses colectivos/nacionais.

b) Moderados:

O PS, e por vezes o CDS, quando não se assumem como neoliberais, adoptam posições de compromisso entre os interesses privados/mercado e os interesses colectivos/Estado.  Neste sentido defendem que o país não deve apenas limitar-se a regular o mercado/iniciativa privada, mas deve também garantir um conjunto de centros de decisão em sectores estratégicos radicados em Portugal. As empresas de capital maioritariamente publico assumem nesta estratégia um função essencial.

c) Ultra-liberais: 

O PSD, esteve directamente envolvido na privatização da maioria das empresas públicas, é um acérrimo defensor da liberalização total do mercado. O Estado deve não deve ter empresas próprias, nem tem vocação para as gerir. Para o Estado tanto faz que as empresas sejam portuguesas, como estrangeiras. Não existem interesses estratégicos nacionais a defender. 

Estamos perante a política do Estado Mínimo.

O Estado só deve intervir nas empresas quanto estas estiverem a dar prejuízo. Uma vez resolvido este problema devem ser privatizadas. 

Durão Barroso, como primeiro-ministro, advogava a total privatização da economia portuguesa, incluindo bens essenciais como a água. A medida agradou de tal forma aos neoliberais da UE, que não tardaram a convidá-lo para chefiar a Comissão Europeia.

O governo do PSD/CDS-PP, entre 2011 e 2015, lançou uma vasta operação de venda ao desbarato das empresas e património público, procurando a reduzir o papel do estado às suas funções básicas de segurança interna e externa, justiça, regulador económico e representação externa.

 

  3. Empresas Municipais

Sob o pretexto de agilizar as obras e os serviços nos municípios, depois de 1977, assistiu-se à criação de largas centenas de empresas municipais por todo o país. 

Após uma fase de enorme sucesso pelos resultados obtidos, não tardou a perceber-se que estamos perante mais uma forma escandalosa de roubo do país.

Os diversos partidos políticos servem-se destas empresas para financiamento próprios, darem emprego aos seus militantes e os próprios autarcas para duplicarem vencimentos. A corrupção e o laxismo, generalizado nas empresas públicas nos anos 80, está hoje implantado nestas empresas municipais.

   
  3.1. Posições Ideológicas

Ao nível das autarquias as posições ideológicas tendem a ser esquecidas pelos vários partidos, sobretudo se estiverem à frente das autarquias. O que predomina é o pragmatismo e o oportunismo.  

4. Problemas 

Um dos problemas centrais das empresas de capital publico, como nas empresas municipais é a total falta de transparência das mesmas. Depois de 1975 tornaram-se verdadeiras coutadas dos partidos políticos, não apenas para se financiarem, mas também para distribuírem cargos (= rendimentos) pelos seus militantes.   

A Assembleia da República limita-se a discutir ideologicamente as relações público/privado, revelando-se de uma assombrosa incompetência nesta matéria. O Tribunal de Contas e outros orgãos públicos que deviam assumir reais funções de fiscalização, limitam-se a acenar para o lado.  

Os critérios que presidem à nomeação dos seus gestores, fixação de vencimentos e regalias (prémios, pensões, etc) não são objecto de escrutínio público. Não é feita qualquer avaliação pública da sua gestão, o que leva a que possam andar anos a fio a lesarem o país.  

Carlos Fontes

   
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