Argélia - Portugal
As cidades do norte de África,
como Argel (Argélia), Tunes (Tunísia),Tripoli (Líbia) e Salé
(Marrocos) foram até meados do século XIX centros de pirataria e abrigo de
corsários.
Estes não se limitavam a actuar no
Mediterrâneo, mas entravam no
Atlântico e atacavam as costas de Portugal, em especial o Algarve e o Alentejo,
mas também os Açores e a Madeira. Centenas de navios foram saqueados ou
destruídos, dezenas de milhares de portugueses foram mortos ou escravizados. O
seu regaste requereu a criação de uma vasta organização.
No século XVI deu-se um enorme
aumento da pirataria muçulmana devido a dois factores: a expulsão de centenas
de milhares de Espanha para o Norte de África e à expansão do Império
Otomano para esta região. O que exigiu o reforço das medidas contra estes
piratas.
Ao longo dos séculos Portugal
organizou ou participou em muitas acções punitivas contra as cidades do
Magreb..
No inicio do século XVII, os
piratas argelinos sem a oposição da marinha portuguesa, destruída pelo
domínio espanhol, aventuram-se pelo Atlântico em navios de grande porte,
atacando, por exemplo, as ilhas dos Açores: em 1616 atacaram a Ilha de Santa
Maria, fazendo grande número de cativos. No ano seguinte atacaram a Ilha do
Porto Santo, e em 1675 de novo atacam os Açores. Portugal
organizou armadas para patrulhar a costa e proteger as naus, que passavam pelos
Açores.
As incursões dos piratas
argelinos eram continuas na costa portuguesa, fazendo milhares de cativos que
eram transportados para Argel onde eram vendidos. Em 1678, os pescadores de
Azurara, queixavam-se de não puderem pagar as contribuições porque os
"mouros" lhes haviam roubado recentemente navios e sequestrado
pessoas. No final do século em Argel existiam muitos portugueses cativos.
No século XVIII, a pirataria
argelina não dava descanso aos portugueses, o número de cativos em Argel
continuava enorme. Durante o reinado de D. João V (1706-1750),
foram efectuados quatro grandes resgates (1720, 1726, 1731 e 1739, todos
realizados por frades da Ordem da Trindade.
D. José I voltou a organizar-se uma esquadra para vigiar o Estreito
de Gibraltar que se manteve activa até 1807. Em 1784, uma força conjunta de
Portugal e da Espanha atacou o porto de Argel, cujos corsários estavam a
provocar graves prejuízos aos dois países. Em 1787, os portugueses enviam uma
embaixada a Argel para negociar o fim dos ataques dos piratas, mas os resultados
foram nulos.
Em Maio de 1799 uma esquadra
portuguesa toma o porto de Tripoli e em Outubro ataca o porto de Tunes.
Um dos últimos grandes ataques
destes piratas a navios portugueses, ocorreu em Maio de 1802, quando tomam a
fragata "Cisne" que andavam a patrulhar o mediterrâneo. O navio e o
que restava da tripulação foram enviados para Argel, onde foram reduzidos à
condição de escravos. Em 1812, mediante o pagamento de avultadas verbas foi
possível resgatar alguns sobreviventes.
Entre 1807 e 1820, devido ao
facto da armada portuguesa estar no Brasil, os piratas do Magreb provocam grandes
prejuízos ao comércio de Portugal. Apenas a 6/6/1810 foi assinado
o primeiro tratado de tréguas e resgate entre Portugal e Argel, confirmado em
1813, com a assinatura do Tratado de Paz. Este Tratado permitiu recuperar os
cativos que estavam em Argel. Uma cláusula secreta do mesmo, obrigava Portugal
a um avultado pagamento anual, para não ser atacado por piratas argelinos.
Durante a ocupação da
Cisplatina (1816-1822), os espanhóis deram cartas de corso a piratas argelinos
para estes atacarem navios portugueses.
A pirataria de Argel só deixou de ser uma ameaça à navegação no Mediterrâneo
e no Atlântico, quando em 1830 a França conquistou esta cidade.
Século XX
A relação dos portugueses com a
Argélia muda no século XX, quando entre 1926 e 1974 se constituiu como um pólo de resistência contra a ditadura em Portugal.
Muitos portugueses aqui procuraram asilo.
Nas vésperas da Ditadura
(1926-1974), Manuel Teixeira Gomes renunciou ao cargo de Presidente da República
e parte para Bougie (hoje Bejaia) na Argélia, onde viverá exilado, no Hotel l'
Étoile até falecer em 1941.
A partir de finais dos anos 50 do
século XX, a Argélia recebeu e apoiou muitos opositores à ditadura, como o General Humberto Delgado.
Em 1962 foi aqui instalado um posto de rádio - Rádio
Portugal Livre. Os movimentos de libertação das
ex-colónias portuguesas em África, também tiveram na Argélia uma importante base de apoio,
por aqui passaram Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Samora Machel,
Aristides Pereira, Mário Pinto de Andrade, Pedro Pires, Aquino de Bragança,
etc. Em Argel foi assinado, em 1974, o acordo de Independência das
colónias africanas portuguesas.
Desde
meados dos anos 90 que a Argélia se tornou no principal fornecedor de gás
natural a Portugal (40% do total das importações em 2006). Em 2005, os dois
países assinaram um Tratado de Boa Vizinhança, de Amizade e de Cooperação. Em
2007 realizou-se a I cimeira luso-argelina, no ano seguinte a IIª., ambas em
Argel. Em 2010, a IIIª. em Oeiras.
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