Alemanha - Portugal
.
As ligações entre Portugal e a
Alemanha são muito profundas e remontam à Idade Média, muitos séculos antes
da unificação deste país (século XIX).
Casamentos reais
Entre
as imperatrizes da Alemanha contam-se duas portuguesas: Dona Leonor (1434-1467),
casada com o imperador Frederico III , e no século XVI, Isabel de
Portugal casada com o imperador Carlos V. Estas ligações reais
prolongaram-se para além do fim da monarquia em Portugal (1910).
No século XIX /XX, por
exemplo, assinalam-se quatro casamentos:
- D. Augusto de Leuchtenberg,
duque e príncipe de Leuchtenberg e de Santa Cruz, filho do vice-rei de Itália
e de uma princesa filha de Maximiliano José I da Baviera, casou-se em primeiras
núpcias com D. Maria II.
- D. Fernando Augusto, filho do
príncipe e duque de Saxe Coburgo-Gotha, casou-se em segundas núpcias com D.
Maria II. Foi um ilustre mecenas e construtor do Palácio da Pena, em Sintra.
- A Rainha D. Estefânia (Stephanie
Josepha Friederike Wilhelmine Antonia von Hohenzollern-Sigmaringen), casada com D. Pedro V (1837-1861).
- Augusta Vitória
Hohenzollern-Sigmaringen, casada com D. Manuel II (1908 - 1910). Pertencia
também à casa alemã
de Hohenzollern-Sigmaringen,,situado
numa região católica do sul da Alemanha.
Princesas e princesas casaram
também com principes e reis alemães, como foi o caso de duas
filhas de D. Maria II e de de
Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha Rei consorte de Portugal:
D. Antónia de Bragança (1845-1913), casou com o príncipe Leopoldo
de Hohenzollern-Sigmaringen (1835-1905) e D. Maria Ana de
Bragança (1843-1884), casou com o rei Jorge I da Saxónia (Saxe),
cujo casamento ocorreu em 1859 na cidade de Lisboa.
Alemães em Portugal
Século XII.
Os cruzados alemães tiveram um papel muito importante na conquista de Lisboa
(1147). Desde então sempre existiram em Portugal importantes comunidades de
alemães.
Século XV. Muitos
alemães integram as várias expedições marítimas portuguesas. Os seus
mercadores à semelhança dos italianos desfrutam de um estatuto especial. É
também de destacar o numeroso grupo de tipógrafos
e encadernadores alemães que aqui se fixou. O
mais célebre de todos foi Valentim Fernandes, da Morávia, que obteve
privilégios de impressão em Portugal a partir de 1495. Na
2ª metade do séc. XV trabalhou para a Câmara do Porto o encadernador de
origem alemã João Tomé, a quem o Rei D. Manuel concedeu vários privilégios.
Século XVI. As
relações entre Portugal e os reinos alemães são muito intensas, o que
explica os casamentos reais.
Séculos XVII /
XVIII. Em
Portugal, depois da resturação da Independência (1640), para
contrabalançar a
influência da Grã-Bretanha, houve uma política muito activa para reforçar os
laços com a Austria e os vários "reinos" que constituiam a Alemanha
antes da sua unificação (1871). A muitos alemães foram dados altos cargos em
Portugal, nomeadamente no campo militar:
a) Conde
de Schomberg. Entre 1660 e 1668, teve a seu cargo da reorganização do
exército português, sendo a sua acção decisiva na derrota dos espanhóis na
batalha do Ameixial e de Montes Claros;
b) o conde reinante de
Schaumbourg-Lippe, por exemplo, foi
marechal general do exército português de 1762 até à sua morte em 1777,
tendo aqui exercido uma notável acção na reorganização do exército.
Os casamentos de reis
portuguesas, nos séculos XVII e XVIII, com princesas da casa real da Austria
inserem-se nesta política. Nenhum aspecto foi descurado, nomeadamente a assistência
religiosa. Para os católicos a rainha D. Mariana da Austria, casa
com D. João V, estabeleceu em 1737 na igreja de S. João Nepomuceno (Largo de
Camões) para os alemães. No final do século foi erguida uma segunda igreja
alemã, na Rua dos Fanqueiros (nos.113-117).Depois de 1834 este apoio religioso
regrediu, tendo os alemães apenas uma capela (S. Bartolomeu) na igreja de S.
Julião em Lisboa. Para os protestantes foi criado em 1761, a Igreja
Evangélica Alemã de Lisboa, mas sem instalações próprias.
Século XIX.
A comunidade alemã em Portugal
foi ao longo de todo o século muito significativa, tendo influentes figuras em
multiplos domínios, como Emilio Biel (percursor da fotografia), a berlinense Carolina Wilhme Michaelis de Vasconcelos,
etc.
O crescimento da comunidade
alemã traduziu-se desde logo na criação de várias instituições: Em 1822, no bairro de
Campo de Ourique, em Lisboa, foi inaugurado um cemitério alemão.
Durante séculos os alemães foram
sepultados nesta cidade, entre outros locais no Convento de S. Vicente de Fora e
na Igreja de S. Julião (junto ao largo do Município). Em 1848
surge a Escola Alemã
de Lisboa e em 1901 a Escola Alemã do Porto. Neste século muitas empresas
alemãs instalaram-se em Portugal, como foi o caso da Siemens (1876).
Século
XX. Durante a 1ª Guerra Mundial
(1914-1918), os dois países estiveram em guerra na Europa e em África (Angola
e Moçambique). Em Angola, as hostilidades ocorreram no sul entre 1914 e o 1916,
envolvendo acções contra revoltas instigadas pela colónia alemã da Damaralândia
(actual Namíbia). Em Moçambique desenvolveu-se através de conflitos na
fronteira norte, junto ao Rovuma, entre 1914 e 1916. Na Europa, o conflito
começou quando Portugal alegando a sua aliança com a Inglaterra tomou cerca de
60 navios alemães e austriacos que estavam nos seus portos (1916). O que se
seguiu nos campos de batalha foi uma horrivel carnificina. Registe-se o facto de
cerca de 7 mil portugueses terem sido feitos prisioneiros pelos alemães.
Depois da guerra a comunidade
alemã voltou a ressurgir em Portugal. Sinal dos tempos, os protestantes alemães constroem
uma igreja em Palhavã (Lisboa, 1934).
Na 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), Portugal manteve-se neutral,
tendo acolhido muitos milhares de refugiados alemães. Os Nazis desenvolveram
aqui uma intensa actividade de espionagem e propaganda.
Durante as guerras coloniais
(1961-1974) a Alemanha (Ocidental) tornou-se no principal suporte da ditadura
sustentar as guerras em África. A Alemanha forneceu créditos e armas, assim
como realizou importantes investimentos em Portugal. Em troca foram-lhe
concedidas importantes facilidades, nomeadamente para a instalação de uma base
militar em Beja (Alentejo, 1963).
Depois do 25/4/1974, a Alemanha
(Ocidental) volta a apoiar a formação e consolidação dos principais partidos
democráticos (PS e PSD), mas também de outras organizações em especial as
que lutavam contra a influência da antiga União Soviética.
Paralelamente, entre 1974 e 1989,
ex-República Democrática da Alemanha (1945-1989), pró-soviética, apoiava
activamente o PCP, financiando as suas acções de propaganda.
Portugueses na
Alemanha
Comunidade de Judeus
Portugueses. Uma das principais consequências
da ocupação de Portugal pela Espanha (1580), foi o aumento da intolerância
religiosa, assim como as perseguições aos cristãos-novos.
Entre
1580 e 1600
centenas de cristãos-novos ( judeus)
fugiram
para
o
Norte da Alemanha,
levando consigo a língua
e a cultura portuguesas.
Em Hamburgo, onde
se concentravam a maioria do portugueses, dominam o comércio do açúcar, das especiarias e da prata, cooperam na
fundação do Banco de Hamburgo e são corretores na Bolsa.
É enorme o seu contributo
para o seu desenvolvimento e internacionalização.
Em fins do século XVIII começam a sofrer as primeiras perseguições. A sinagoga
portuguesa, fundada no seculo XVII, foi incendiada a 5 de Maio de 1842,
mas voltou a ser reconstruída. Em 1933, as mais prósperas familias portuguesas
da cidade (Jessurun, Del-monte e Cassuto) são obrigadas fugiram, voltando
algumas delas para Portugal, fixando-se em Lisboa e no Porto.
Em Altona,
junto a a Hamburgo, no século XVII, 13 portugueses fundam outra comunidade. Em 1611
criam
em Königstraße um
cemitério
próprio.
A sua sinagoga inaugurada em 1711 será destruída em 1940.
Apesar do genocídio, em Hamburgo
e Altona, ainda hoje subsistem vestígios de 3 cemitérios de judeus portugueses :
Königstraße
(Altona,1611-1869), Bornkampsweg
(1869- )
e
Ilandkoppel, uma antiga
sinagoga, nomes nas ruas de portugueses, uma enorme massa de documentos nos
arquivos, etc. (Consultar)
Século XX. Durante séculos, o fluxo de emigrante fez-se sobretudo da Alemanha para
Portugal, e só muito pontualmente em sentido contrário. A emigração portuguesa
para a Alemanha só se iniciou em meados dos anos 60, tendo durado cerca de uma
década. Deste período ainda existem neste país cerca 132.314 portugueses
(Dados de 2002 do Instituto Federal de Estatística Alemão).
Sites
da comunidade portuguesa: www.cdpais.de
; www.portugal-post.de
(Hamburgo)
Carlos
Fontes |