Director: Carlos Fontes

 

EDITORIAL

ANGOLA

BRASIL

CABO VERDE

GUINÉ-BISSAU

MOÇAMBIQUE

PORTUGAL

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

TIMOR

OUTROS PORTOS

CONTACTOS
.
.

Comunidades Portuguesas no Mundo

.
 

..

Caravela. Navio português (séc.XV) 

Uma Viagem pelo Mundo em Português

Seleccione o país:

A-C . D-F . G-I . J-M . N-S . T-Z

Início. Anterior . Próximo.

.

 

Perú - Portugal

Quem chegou primeiro ao Império dos Incas? Pizarro ou o português Aleixo Garcia? Não restam dúvidas que foi o último. 

Aleixo Garcia participou numa expedição de outro português - João Dias de Solis, em 1515, ao Rio da Prata. Voltou a fazê-lo na companhia do seu primo - Diogo Garcia -, em 1528/9. Durante a expedição, após a morte deste, com 5 outros sobreviventes prosseguiu a expedição. Tendo obtido o apoio dos indios Chiriguanos, conseguiu ultrapassar a região andina, atingindo a Chiquisaca, na actual república da Bolívia, sendo portanto o primeiro a atingir o Império dos Incas (2). 

A ideia de conquistar o Império Inca veio de portugueses: Pedro de Alvarado, na cidade de Gautemala, em 1532, escreveu a Carlos V, uma carta afirmando que havia dois anos que fora contactado por dois pilotos portugueses, os quais lhe propuseram ir conquistar o «Império Pirú». Os portugueses guiavam desta forma os espanhóis na conquista da América. 

Ainda em 1532, partiu desta cidade uma expedição para a conquista do Peru, sob o comando de Sebastián de Belalcázar, um piloto português chamado João Fernandes. Este piloto participou  na conquista de Tumbes e de Cajamarca, com Pizarro. Noutra expedição com Pedro Alvarado (1534) foi à costa do Equador, tendo subido até Quito. 

Não deixa de ser curioso que o primeiro mapa onde consta o nome de Peru foi feito, em 1527, também por um português - Diego Ribeiro.

Conquistadores

As sanguinárias expedições de conquista do Peru e do Chile feitas por Francisco Pizarro e seus irmãos (1534), assim como as de Diego Almagro (1534), Pedro de Valdivia (1541), Garcia H. Mondonza (1557), contaram com centenas de portugueses. 

Com Pizarro, andaram por exemplo: Simão (Ximón Portugues), um dos fundadores de Cuzco (1534); Frei Pedro de Portugal, também conhecido por Fray Pedro de los Algarbes, fundador do Convento de S. Francisco em Cuzco; Lopo Martim Pereira, etc.

A expedição que Pedro Alvarado (1534) dirigiu contra Pizarro, contava entre outros portugueses - João Fernandes (almirante) e Genes de Mafra (piloto).  

Entre os nobres portugueses, envolvidos nas matanças, nomeadamente dos espanhóis entre si, destacam-se os seguintes:

- O comendador Mascarenhas, cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi com Juan de Joffre ao Chile (1549), entre outras missões foi encarregado de prender o capitão Francisco Ulloa. Acompanhou Pedro de Valdivia na sua expedição ao sul, tendo morrido numa escaramuça contra os indios no rio Vergara (1560).  Era membro de uma das mais importantes familias de Portugal nos séculos XVI e XVII. Entre os seus ilustres descendentes é apontado o próprio Simón Bolivar.

Nesta altura, um seu familiar - Gaspar de Figueiredo Mascarenhas - foi nomeado regente de Portugal pela rainha Dona Catarina (1559), e anos depois Filipe II de Espanha nomeia-o alcaide de Faro (1580).  

- Francisco Barreto, filho do alcaide-mor de Faro - Rui Barreto, cognominado o "Bigodes" -  andou também na conquista do Peru e por lá terá morrido. 

- Gaspar de Rodas. Filho de Florêncio de Rodas, alcaide-mor de Loulé e de Guiomar Coelho, natural de Lamego. Andou na conquista do Perú (1540) e Reino de Quito. Ao serviço de Belalcázar , assumiu o governo de Popayán. Em 1569 subjugou a ferro e fogo a Antioquia (Colombia). Criou várias cidades: San-Juan de Rodas (1571), Zaragoza de las Palmas (1581), etc.

No Peru e no Chile, os portugueses na primeira metade do século XVI foram sobretudo conquistadores, mas no final do século desempenhavam inúmeras actividades, ocupando com frequência destacadas posições. 

Povoadores

Após a  criação do Vice-Reinado do Peru, em 1542, aumentou de forma considerável o número de portugueses na região. 

Marinheiros

A maioria dos comandantes e pilotos de navios que operavam nas costas do Chile e Perú eram portugueses. Por lá andou Pedro Fernandes Queiróz, Luis Vaz Torres e tantos outros. O célebre corsário Francis Drake foi conduzido até ao Chile e Peru por um piloto português.

Mineiros

A descoberta de ouro e prata, em finais do século XVI, trouxe à região muitos portugueses de religião cristã ou judaica, estes últimos fugiam da Inquisição. Estabelecem-se ao longo do Rio da Prata (La Plata), em Potosi, Lima e outras cidades. 

Pouco antes de 1560, nos arredores da actual cidade de Huancavelica, o português Henrique Garcês, descobriu uma jazida de Mercúrio. Foi ele que introduziu no Peru a técnica de extracção da prata utilizando este metal, dado que se havia esgotado a prata pura em Potasi. 

Na primeira metade do século XVII os portugueses já controlavam o comércio dos metais preciosos, o que provocam uma viva reacção por parte dos espanhóis que os acusam de judaísmo. As perseguições foram brutais.

Em San Luis de Huari, na Cordilheira Branca do Perú, os portugueses exploravam várias minas que ficaram famosas. Em meados do século XIX quando Williams Fitzgerlad, o "Rei da Borracha", aqui chegou, a dedicavam-se apenas à agricultura e criação de gado, e iniciavam-se na exploração da borracha.. 

 

Comerciantes

Nos séculos XVI e XVII, os portugueses dominavam o comércio nas principais cidades do Perú, construindo importantes rotas comerciais.

Os "peruleiros", nome pelo qual eram conhecidos os portugueses comerciantes, criaram uma verdadeira estrada comercial desde a foz do Rio da Prata até Potasi e daí a Lima. Em troca da prata, vendiam tudo, incluindo escravos angolanos. Uma parte significativa das mercadorias que iam para o Rio de Janeiro eram reexportadas para Potasi. Um dos objectivos da criação da Colónia do Sacramento (Uruguai) era para apoiar e proteger esta rota comercial clandestina...

Estava também sob o seu controlo, o comércio iniciado, em 1581, entre  Peru e o Oriente, via Macau (China). Este prospero comércio foi a principal razão que esteve na base das perseguições que os portugueses foram vítimas da Inquisição no Peru.

Escravos

A exploração mineira no Peru, embora se fizesse sobretudo com escravos indigenas, contou desde os inicio também com escravos negros. Uns vinham através do Panamá e de Cartagena, outros chegavam do Rio da Prata. A esmagadora maioria destes escravos eram fornecidos por portugueses. Na cidade de Lima funcionava o grande mercado abastecedor das regiões andianas. Em 1622, Lima contava com cerca de 67% dos 30 mil escravos negros que habitavam no Perú (1). Em 1791, cerca de 25% da população desta cidade era negra.

Desde o século XVI que os portugueses forneciam escravos às Indias espanholas, incluindo naturalmente o Peru. Calcula-se que entre 1 e 9% da actual população peruana seja originária de África (Dados de 2010). 

Personagens

A história do Perú até ao século XVIII está repleta de portugueses ou luso-descendentes, que deram um importante contributo para cultura e desenvolvimento. 

Um dos casos mais interessantes é o que envolve a familia de Garciloso de la Vega, baptizado como o nome de Gomes Soares de Figueiroa (1539-1616), era filho de uma princesa inca e de um mercenário português. 

 

Após a morte do seu pai foi adoptado por uma família espanhola. Trata de primeiro poeta e historiador do novo mundo, que procurou criar um outro olhar sobre a história das américas, tendo em conta a perspectiva dos povos  obras. 

- Henrique Garcês, mineiro, traduziu também para o espanhol "Os Lusíadas" de Luís de Camões (Madrid, 1591) e Petrarca.

- Manuel Baptista Peres, o mais rico comerciante do Peru, morto em 1639 pela Inquisição de Lima. Este negreiro possuía uma vasta biblioteca e importante pinacoteca na cidade de Lima. O actual aeroporto de Lima foi construído sobre a sua opulenta fazenda.

- Pedro de León Portocarrero, publica escreve a conhecida obra - "Descripción General del Reino del Peru". (1610). 

- Francisco Maldonado da Silva (1592-1639), poeta, cirurgião e filosofo. Grande erudito foi preso em 1627 e morto pela Inquisição de Lima em1639. Pertencia a uma ilustre família de ilustres médicos portugueses. 

- Manuel Maciel y Cabral de Alpoin (1696 -?), oriundo de uma ilustre familia portuguesa radicada no Peru, tem o seu nome ligado ao Porto de Santa Fé.

- Jorge Negreiros y Silva (séc.XVIII), corregedor de Arica, Visconde, e depois Marquês de Negreiros (1721), cuja soberba casa se encontra na "Plaza Mayor de Lima".

Perseguições da Inquisição

No Tribunal da Inquisição de Lima, entre 1569 e 1820, dos 32 condenados à pena de morte, a maioria eram portugueses (15),  dos 7 espanhóis, 4 eram filhos de portugueses, 1 crioulo era também filho de portugueses. 

 

A partir dos anos 30 do século XVII intensificam-se os autos de fé contra portugueses, sendo os comerciantes o grupo mais visado. 

 

Em 1639 foram queimados em Lima 11 portugueses, entre os quais se contava Manuel Baptista Peres, o principal mercador do Peru. Foram também penitenciados mais 50 outros, a maioria dos quais ricos mercadores. Eram acusados de judaizarem e de estarem ligados à Companhia das Indias Orientais (Holandesa). Os espanhóis aproveitarem para os roubarem e espoliarem as suas famílias, e os comerciantes locais para anular a concorrência que os portugueses lhes faziam. 

 

As perseguições e matanças de portugueses prolongaram-se até ao século XVIII. 

 

Apesar destas proibições e perseguições, a presença portuguesa nas Indias espanholas foi sempre muito numerosa e influente. Em todas as expedições espanholas estiveram sempre portugueses. Um facto que só agora começa a ser estudado. 

 

Cidades peruanas

 

Os portugueses estavam espalhados por todo o Peru, incluindo nos pontos mais inacessíveis. 

 

Lima

 

- Casa de Pilatos. Construída, em 1590, e até 1635 serviu de pousada e de loja a mineiros e comerciantes portugueses. O seu nome provém de um português - Manuel Baptista Peres -, que em Agosto de 1635, um espanhol embriagado teria aqui visto com outros portugueses a profanar imagens sagradas.

 

- Convento de São Francisco. O principal arquitecto foi o português Constantino de Vasconcelos, nascido em Braga (? -1668).

- Igreja La Merced. Uma lápide indica que ali se encontra sepultado Frei Gonçalo Dias de Amarante, "Mercedario português ( ? -1618).

- Igreja do Sacrário. Na cripta está sepultado Diego de León Dinalo  (1608-1671), filho de Diego Lopes de Lisboa e Leão. 

- Museu da Inquisição. Eram portugueses a maioria das cerca de 3 mil pessoas, que entre 1569 e 1813, foram parar as cárceres da Inquisição de Lima. 

 

Cuzco

 

- Convento de São Francisco, fundado por Frei Pedro de Portugal.

 

Iquitos

 

- As famosas "casas caucheras" (de seringadores) fora construídas no final do século XIX, princípios do XX no auge da exploração da borracha, graças à Iquito de tornou na capital do Loreto. Muitas dessas grandes casas que restam dessa altura são de portugueses, que as revestiam por vezes de azulejos.

 

Exploração da Borracha (cauchon)

 

Um número impressionante de portugueses o final do século XIX e princípios do século XX, estavam radicados no Peru onde se dedicavam à exploração borracha na selva amazónica. Em Loreto estão por todo o lado, funcionando inclusive como oficiais do governo peruano.

 

Descendentes

Continua a ser muito elevado o número de peruanos (cerca de 340 mil) que possuem apelidos de origem portuguesa, como - Alvares, Fernandes, Gomes, Lopes, Rodrigues, Sanches, etc. - o quais se distinguem dos espanhóis que terminam em ‘z’. 

- Gonzalo de Reparaz Ruiz, geografo e historiador:

Perú- Brasil

A presença dos portugueses no Perú, está ligada à expansão do Brasil, a qual foi feita literalmente comendo o Perú  através do Amazonas.

Aproveitando o domínio castelhano (1580-1640), o português Francisco Caldeira Castelo Branco funda a cidade de Belém do Grão-Pará (1616), um ponto estratégico para a definitiva conquista de vastas regiões do Perú. A partir de Belém, exploraram os Amazonas.

Em 1637 e 1739 navegando pelo rio Amazonas chegam a Quito, no Peru, expandindo desta forma o Brasil. Estes domínios portugueses foram pouco depois consagrados, em 1750, no Tratado de Madrid.

Carlos Fontes 

  Notas:

(1)

(2) Ruiz, Gonzalo de Raparaz - Os Portugueses...., pp.9-10

   

Editorial | lAngola | Brasil | Cabo Verde | Guiné-Bissau  | Moçambique | Portugal | São Tomé e Príncipe | Timor |  | Contactos

Para nos contactar: