Perú -
Portugal
Quem chegou primeiro ao
Império dos Incas? Pizarro ou o português Aleixo Garcia? Não restam
dúvidas que foi o último.
Aleixo Garcia participou numa
expedição de outro português - João Dias de Solis, em 1515, ao Rio da
Prata. Voltou a fazê-lo na companhia do seu primo - Diogo Garcia -, em
1528/9. Durante a expedição, após a morte deste, com 5 outros sobreviventes
prosseguiu a expedição. Tendo obtido o apoio dos indios Chiriguanos,
conseguiu ultrapassar a região andina, atingindo a Chiquisaca, na actual
república da Bolívia, sendo portanto o primeiro a atingir o Império dos
Incas (2).
A ideia de conquistar o
Império Inca veio de portugueses: Pedro de Alvarado, na cidade de Gautemala,
em 1532, escreveu a Carlos V, uma carta afirmando que havia dois anos que fora
contactado por dois pilotos portugueses, os quais lhe propuseram ir conquistar
o «Império Pirú». Os portugueses guiavam desta forma os espanhóis na
conquista da América.
Ainda em 1532, partiu desta
cidade uma expedição para a conquista do Peru, sob o comando de Sebastián
de Belalcázar, um piloto português chamado João Fernandes. Este
piloto participou na conquista de Tumbes e de Cajamarca, com Pizarro.
Noutra expedição com Pedro Alvarado (1534) foi à costa do Equador, tendo
subido até Quito.
Não deixa de ser
curioso que o primeiro
mapa onde consta o nome de Peru foi feito, em 1527, também por um português
- Diego
Ribeiro.
Conquistadores
As
sanguinárias expedições de conquista do Peru e do Chile feitas por Francisco Pizarro e
seus irmãos (1534), assim como as de Diego Almagro (1534), Pedro de Valdivia (1541), Garcia H.
Mondonza (1557), contaram com centenas de portugueses.
Com
Pizarro,
andaram por exemplo: Simão (Ximón Portugues), um dos fundadores de
Cuzco (1534); Frei Pedro de Portugal, também conhecido por Fray Pedro
de los Algarbes, fundador do Convento de S. Francisco em Cuzco; Lopo Martim
Pereira, etc.
A expedição
que Pedro Alvarado (1534) dirigiu contra Pizarro, contava entre outros
portugueses - João Fernandes (almirante) e Genes de Mafra
(piloto).
Entre
os nobres portugueses, envolvidos nas matanças, nomeadamente dos espanhóis
entre si, destacam-se os seguintes:
-
O comendador Mascarenhas, cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi com
Juan de Joffre ao Chile (1549), entre outras missões foi encarregado de
prender o capitão Francisco Ulloa. Acompanhou Pedro de Valdivia na sua expedição
ao sul, tendo morrido numa escaramuça contra os indios no rio Vergara (1560).
Era membro de uma das mais importantes familias de Portugal nos séculos XVI e
XVII. Entre os seus ilustres descendentes é apontado o próprio Simón
Bolivar.
Nesta
altura, um seu familiar - Gaspar de Figueiredo Mascarenhas - foi nomeado
regente de Portugal pela rainha Dona Catarina (1559), e anos depois Filipe II
de Espanha nomeia-o alcaide de Faro (1580).
-
Francisco Barreto, filho do alcaide-mor de Faro - Rui Barreto,
cognominado o "Bigodes" - andou também na conquista do Peru e
por lá terá morrido.
- Gaspar de
Rodas. Filho de Florêncio de Rodas, alcaide-mor de Loulé e de Guiomar
Coelho, natural de Lamego. Andou na conquista do Perú (1540) e Reino de
Quito. Ao serviço de Belalcázar , assumiu o governo de Popayán. Em 1569
subjugou a ferro e fogo a Antioquia (Colombia). Criou várias cidades:
San-Juan de Rodas (1571), Zaragoza de las Palmas (1581), etc.
No
Peru e no Chile, os portugueses na primeira metade do século XVI foram sobretudo
conquistadores, mas no final do século desempenhavam inúmeras actividades,
ocupando com frequência destacadas posições.
Povoadores
Após
a criação do Vice-Reinado do Peru, em 1542, aumentou de forma
considerável o número de portugueses na região.
Marinheiros
A maioria dos
comandantes e pilotos de navios que operavam nas costas do Chile e Perú eram
portugueses. Por lá andou Pedro Fernandes Queiróz, Luis Vaz Torres e tantos
outros. O célebre corsário Francis Drake foi conduzido até ao Chile e Peru
por um piloto português.
Mineiros
A
descoberta de ouro e prata, em finais do século XVI, trouxe à região muitos
portugueses de religião cristã ou judaica, estes últimos fugiam da
Inquisição. Estabelecem-se ao longo do Rio da Prata (La Plata), em Potosi,
Lima e outras cidades.
Pouco antes de 1560, nos
arredores da actual cidade de Huancavelica, o português Henrique Garcês,
descobriu uma jazida de Mercúrio. Foi ele que introduziu no Peru a técnica
de extracção da prata utilizando este metal, dado que se havia esgotado a
prata pura em Potasi.
Na primeira metade do século
XVII os portugueses já controlavam o comércio dos metais preciosos, o que
provocam uma viva reacção por parte dos espanhóis que os acusam de
judaísmo. As perseguições foram brutais.
Em
San Luis de Huari, na Cordilheira Branca do Perú, os portugueses
exploravam várias minas que ficaram famosas. Em meados do século XIX quando
Williams Fitzgerlad, o "Rei da Borracha", aqui chegou, a dedicavam-se
apenas à agricultura e criação de gado, e iniciavam-se na exploração da
borracha..
Comerciantes
Nos séculos XVI e XVII, os
portugueses dominavam o comércio nas principais cidades do Perú, construindo
importantes rotas comerciais.
Os "peruleiros", nome
pelo qual eram conhecidos os portugueses comerciantes, criaram uma verdadeira
estrada comercial desde a foz do Rio da Prata até Potasi e daí a Lima. Em
troca da prata, vendiam tudo, incluindo escravos angolanos. Uma parte
significativa das mercadorias que iam para o Rio de Janeiro eram reexportadas
para Potasi. Um dos objectivos da criação da Colónia do Sacramento
(Uruguai) era para apoiar e proteger esta rota comercial clandestina...
Estava
também sob o seu controlo, o comércio iniciado, em 1581, entre Peru e
o Oriente, via Macau (China). Este prospero comércio foi a principal razão que esteve
na base das perseguições que os portugueses foram vítimas da Inquisição
no Peru.
Escravos
A exploração mineira no Peru,
embora se fizesse sobretudo com escravos indigenas, contou desde os inicio
também com escravos negros. Uns vinham através do Panamá e de Cartagena,
outros chegavam do Rio da Prata. A esmagadora maioria destes escravos eram
fornecidos por portugueses. Na cidade de Lima funcionava o grande mercado
abastecedor das regiões andianas. Em 1622, Lima contava com cerca de 67% dos
30 mil escravos negros que habitavam no Perú (1). Em 1791, cerca de 25% da
população desta cidade era negra.
Desde o século XVI que os
portugueses forneciam escravos às Indias espanholas, incluindo naturalmente o
Peru. Calcula-se que entre 1 e 9% da actual população peruana seja
originária de África (Dados de 2010).
Personagens
A história do Perú até ao
século XVIII está repleta de portugueses ou luso-descendentes, que deram um
importante contributo para cultura e desenvolvimento.
Um
dos casos mais interessantes é o que envolve a familia de Garciloso de la Vega, baptizado
como o nome de Gomes Soares de Figueiroa (1539-1616), era filho de uma
princesa inca e de um mercenário português.
Após a
morte do seu pai foi adoptado por uma família espanhola. Trata de primeiro
poeta e historiador do novo mundo, que procurou criar um outro olhar sobre a
história das américas, tendo em conta a perspectiva dos povos obras.
- Henrique Garcês, mineiro,
traduziu também para o espanhol "Os Lusíadas" de Luís de Camões (Madrid, 1591) e
Petrarca.
- Manuel Baptista Peres, o mais
rico comerciante do Peru, morto em 1639 pela Inquisição de Lima. Este
negreiro possuía uma vasta biblioteca e importante pinacoteca na cidade de Lima.
O actual aeroporto de Lima foi construído sobre a sua opulenta fazenda.
- Pedro de León Portocarrero,
publica escreve a conhecida obra - "Descripción General del Reino del
Peru". (1610).
- Francisco Maldonado da Silva
(1592-1639), poeta, cirurgião e filosofo. Grande erudito foi preso em 1627 e
morto pela Inquisição de Lima em1639. Pertencia a uma ilustre família de
ilustres médicos portugueses.
- Manuel
Maciel y Cabral de Alpoin (1696 -?), oriundo de uma ilustre familia portuguesa
radicada no Peru, tem o seu nome ligado ao Porto de Santa Fé.
- Jorge
Negreiros y Silva (séc.XVIII), corregedor de Arica, Visconde, e depois Marquês
de Negreiros (1721), cuja soberba casa se encontra na "Plaza Mayor de
Lima".
Perseguições da
Inquisição
No
Tribunal da Inquisição de Lima, entre 1569 e 1820, dos 32 condenados
à pena de morte, a maioria eram portugueses (15), dos 7 espanhóis, 4
eram filhos de portugueses, 1 crioulo era também filho de portugueses.
A
partir dos anos 30 do século XVII intensificam-se os autos de fé contra
portugueses, sendo os comerciantes o grupo mais visado.
Em
1639 foram queimados em Lima 11 portugueses, entre os quais se contava Manuel
Baptista Peres, o principal mercador do Peru. Foram também penitenciados mais 50 outros, a maioria dos
quais ricos mercadores. Eram acusados de judaizarem e de estarem ligados à Companhia das Indias Orientais (Holandesa).
Os espanhóis aproveitarem para os roubarem e espoliarem as suas famílias, e
os comerciantes locais para anular a concorrência que os
portugueses lhes faziam.
As perseguições e matanças de portugueses
prolongaram-se até ao século XVIII.
Apesar
destas proibições e perseguições, a presença portuguesa nas Indias
espanholas foi sempre muito numerosa e influente. Em todas as expedições
espanholas estiveram sempre portugueses. Um facto que só agora começa a ser
estudado.
Cidades
peruanas
Os
portugueses estavam espalhados por todo o Peru, incluindo nos pontos mais
inacessíveis.
Lima
-
Casa de Pilatos. Construída, em 1590, e até 1635 serviu de pousada e de
loja a mineiros e comerciantes portugueses. O seu nome provém de um
português - Manuel Baptista Peres -, que em Agosto de 1635, um espanhol
embriagado teria aqui visto com outros portugueses a profanar imagens
sagradas.
-
Convento de São Francisco. O principal arquitecto foi o português
Constantino de Vasconcelos, nascido em Braga (? -1668).
-
Igreja La Merced. Uma lápide indica que ali se encontra sepultado Frei
Gonçalo Dias de Amarante, "Mercedario português ( ? -1618).
-
Igreja do Sacrário. Na cripta está sepultado Diego de León Dinalo
(1608-1671), filho de Diego Lopes de Lisboa e Leão.
-
Museu da Inquisição. Eram portugueses a maioria das cerca de 3 mil
pessoas, que entre 1569 e 1813, foram parar as cárceres da Inquisição de
Lima.
Cuzco
-
Convento de São Francisco, fundado por Frei Pedro de Portugal.
Iquitos
-
As famosas "casas caucheras" (de seringadores) fora
construídas no final do século XIX, princípios do XX no auge da
exploração da borracha, graças à Iquito de tornou na capital do Loreto.
Muitas dessas grandes casas que restam dessa altura são de portugueses, que
as revestiam por vezes de azulejos.
Exploração
da Borracha (cauchon)
Um
número impressionante de portugueses o final do século XIX e princípios do
século XX, estavam radicados no Peru onde se dedicavam à exploração
borracha na selva amazónica. Em Loreto estão por todo o lado, funcionando
inclusive como oficiais do governo peruano.
Descendentes
Continua a ser muito elevado o
número de peruanos (cerca de 340 mil) que possuem apelidos de origem
portuguesa, como - Alvares, Fernandes, Gomes, Lopes, Rodrigues, Sanches, etc.
- o quais se distinguem dos espanhóis que terminam em ‘z’.
- Gonzalo de Reparaz
Ruiz, geografo e historiador:
Perú- Brasil
A presença dos portugueses no Perú, está ligada
à expansão do Brasil, a qual foi feita literalmente
comendo o Perú através do Amazonas.
Aproveitando o domínio castelhano
(1580-1640), o português Francisco Caldeira Castelo Branco funda a cidade de
Belém do Grão-Pará (1616), um ponto estratégico para a definitiva
conquista de vastas regiões do Perú. A partir de Belém, exploraram os
Amazonas.
Em 1637 e 1739 navegando pelo rio Amazonas chegam a Quito, no Peru,
expandindo desta forma o Brasil. Estes domínios portugueses foram pouco
depois consagrados, em 1750, no Tratado de Madrid.
Carlos Fontes |