Após o nascimento a criança vai tomando
gradualmente consciência da sua própria identidade, num processo que se
prolonga por toda a vida.
É por volta dos dois anos de idade que a
criança aprende a reconhecer-se num espelho. Ela vai depois relacionar esta
imagem de si própria com o que sente interiormente, assumindo-se como um
"Eu". O processo não é imediato.
"A criança começa a ver-se a si
própria através dos olhos das figuras importantes do seu mundo e, assim,
adquire a ideia de que é uma pessoa - apesar de, no inicio, ser uma pessoa
muito pequena - ta com eles.. Á medida que as interacções sociais se tornam
mais complexas, mais pormenores são acrescidos à auto-imagem. Com efeito, a
criança vê-se a si própria através do espelho das opiniões e expectativas
desses outros - mãe, pai, irmãos, amigos - que têm importância para ela. O
seu comportamento ulterior não pode evitar ser modelado pelo seu "eu-reflectido
inicial.",cfr. Henry Gleitman e outros, ob.cit., p.636.
A capacidade de se por no lugar de outro, não se
manifesta contudo antes do terceiro ano de vida, visto antes disso o eu e o tu
não estarem ainda nitidamente separados na consciência da criança.
A partir dos seis anos começa um período de identificação
diferentes modelos, no quadro do processo de socialização.
De forma progressiva vai reconhecendo outras dimensões da sua
identidade (identidade sexual, filiação, aluno, etc).
A adolescência, como veremos, será um período
crucial na definição da sua identidade.
Entende-se por identidade pessoal, o conjunto de
características distintivas de um individuo: quem cada um e nós é, quais os
papéis que assumimos e de que é que somos capazes.
1. Consciência de si. Cada individuo é
objectivamente único, nomeadamente porque possui um património genético
distinto de todos os outros, mas a principal diferença é sobretudo de natureza
subjectiva. Está no modo como cada sujeito
se sente e se vê diferente dos outros, isto é, se individualiza.
1.1. Sentimentos e Subjectividade
Na formação da consciência de si, os
sentimentos tem uma função fundamental, pois é através deles que o sujeito
começa por manifestar e revelar o seu ponto de vista particular (subjectivo ),
o seu mundo pessoal, intimo. Os sentimentos configuram desta forma a
subjectividade.
1.2. Pensamento e Identidade
A nossa mente não se limita a processar
informações, cria o sentido e o significado que atribuímos a nós próprios,
a outros e ao mundo em que vivemos.
2. Eu e Outros. As relações
face-a-face (interacções sociais) são determinantes no processo
identitário. Os indivíduos
para formarem a sua própria identidade necessitam uns dos outros, nomeadamente
enquanto modelos com os quais se identificam ou se diferenciam. Não
existe um "eu amadurecido sem um "tu" ou um
"eles".
Construímos e valoramos o nosso eu a partir do
modo como os outros reagem perante nós. O que dizem de nós e a forma como nos
descrevem, nos qualificam e valoram, acaba por se fixar nas nossas mentes, e com
o tempo se entrelaça com as nossas própria opiniões sobre nós próprios.
A nossa identidade é, assim, a consequência do
reflexo dos outros significativos para nós.
A identidade está também ligada ao conhecimento
que temos de pertencer a um ou vários grupos, e ao significado emocional e
avaliativo que damos a esta pertença, que reflecte o modo como nos vemos no
grupo e pelo grupo. Uns pelo seu capital material e simbólico podem
auto-destacarem-se no grupo a que pertencem, outros apagarem-se na sua
individualidade.
Contributos a destacar:
Hegel, W. James, Charles Horton Cooley,
G. H. Mead, Kenneth J. Gergen e R.B.Burns.
3. Construção da Identidade. A
formação da identidade pessoal é um processo dinâmico ao longo da vida,
atravessa várias fases, em que um sujeito oscila permanente entre a identificação
com outros e a diferenciação deles.
4. Crises de Identidade. As várias fases
na construção da identidade são marcadas por crises ou mesmo rupturas.
Erik Erikson mostrou que durante a adolescência
as pessoas são postas à prova, procurando determinar o que é único e
especial em cada uma delas. Procuram descobrir os seus pontos fortes e quais os
papéis mais adequados para o resto as suas vidas. A confusão sobre o
papel mais apropriado pode levar a identidade instável e a adopção de
comportamentos desviantes.
Existem muitas outras situações que ao longo da
vida podem provocar mudanças na identidade, ou mesmo crises profundas: emprego,
casamento, militância política, estado de saúde, reforma, viúvez,
etc.
5. História de Vida
Em Construção !
Carlos Fontes
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