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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Contemporânea - (Séc.XIX)

Ensino de Desenho Industrial

 

As Escolas de desenho Industrial, cujas origens remontam ás aulas de Debuxo e Desenho do século XVIII, constituíam a grande esperança para a renovação da industria portuguesa. A sua criação não se ficou apenas a dever ao Estado, mas diversas entidades particulares as criaram ao longo deste século.

O primeiro projecto de estabelecer entre nós o ensino de desenho data de 7 de Setembro 1837, quando Rodrigo da Fonseca Magalhães, no quadro da Reforma da Instrução Primária estabelece o ensino de desenho linear. Neste ano, na Escola Politécnica era igualmente estabelecido o ensino de desenho linear, envolvendo o desenho de figura, de plantas e animais, e outros produtos da natureza, assim como a representação de instrumentos, máquinas e aparelhos[1]. Na reforma da instrução de Costa Cabral[2], no segundo grau da instrução primária surgiam as disciplinas de desenho linear e a de aritmética e geometria com aplicações á industria. Estas disciplinas eram igualmente professadas nas Escolas Normais para habilitação dos professores da instrução primária. No Liceu de Lisboa foi também criada a disciplina de aritmética e geometria com aplicações ás artes, e a de Geometria e Mecânica aplicada ás artes e oficios. O ensino de desenho foi-se tornando uma realidade em meados do século XIX nas escolas portuguesas.

Aquando da publicação do diploma que criava o ensino industrial no país, em 1854, o desenho surgia como o núcleo central deste ensino. Foi então dividido em dois ciclos, um de carácter "elementar", para crianças a partir dos 6 anos de idade, e com a duração de dois anos, denominado de "Desenho Industrial" ou "Especial", com igual duração, mas que possuía já características profissionais. O projecto deste ensino contudo nunca passou do papel.

Noutros países, como a Inglaterra, o Desenho Industrial tinha então um crescimento espectacular, para acompanhar o desenvolvimento industrial e a renovação dos produtos. Neste pais, em 1852 por iniciativa do governo começara-se a constituir uma verdadeira rede de escolas de desenho, contando já em 1859 com cerca de 81 estabelecimentos oficiais, e em 1857, cerca de 180 escolas privadas sob inspecção do Estado; Em 1861, Willian Morris, criava a celebre firma "Marshall & Faulkener Operários de Belas Artes em Pintura, Gravura, Móveis e Metais, que marcará o inicio de uma nova etapa mundial no desenho industrial. Esta revolução que ocorria em Inglaterra, náo era desconhecida entre nós: Em 1879, Joaquim de Vasconcelos fazia o ponto do atraso do país face ao resto da Europa.

Após uma visita ao South Kensigton Museu de Londres, António Augusto Aguiar não tem duvidas que era necessário avançar neste domínio. Assim, em 1893, quando são criados os museus industriais e comerciais , logo no capitulo III, estabelecia-se que as escolas de desenho industrial a criar deveriam ser aplicadas ás industrias locais. mas não se visava apenas as industrias locais existentes, mas a própria tradição local: os cursos de desenho teriam segundo os legisladores, " um carácter local e nacionalista", inspirando-se no nosso "Folk- Lore".Eram as correntes estéticas revivalistas que se visavam, não a renovação estética. As escolas deveriam mesmo situarem-se dentro dos próprios recintos dos museus, subordinadas ás suas direcções. As estas estava incumbida também a tarefa de promover prelecções ou cursos industriais livres, numa recuperação directa dos Conservatórios de 1837. Os legisladores apontam contudo outros modelos: o South Kensigton de Londres, onde se procurava promover o ensino industrial a partir do desenho, com base na arte tradicional.

Seja como for, a 3 de Janeiro de 1884 são criadas 8 escolas de desenho industrial: tres em Lisboa, três no Porto, uma em Coimbra e outra nas Caldas da Rainha. Mantinha-se a estrutura preconizada em 1864, dividindo o desenho em "elementar" e "industrial", apenas aumentando a duração deste ultimo para tres anos.

     "A Escola de desenho de Caldas da Rainha recebeu a 9 de outubro do mesmo ano o nome de Rainha D. Leonor e começou a funcionar em Janeiro de 1885, em edificio cedido pela Camara Municipal. Nela eram ministrados cursos diversos cursos de desenho elementar, destinados a alunos dos 6 aos 12 anos, e cursos nocturnos de desenho industrial, para  alunos dos 12 anos em diante. Nesse Primeiro ano lectivo, matricularam-se 12 alunos nos cursos diurnos e 36 nos nocturnos.", João B. Serra, Ceramica e Ceramistas Caldenses da segunda metade do século XIX, Caldas da Rainha, 1987.

As carências deste ensino ultrapassavam o gravoso problema das instalações, a subordinação aos museus e o carácter tradicionalista e imitativo que lhes era imprimido. António Arroio justamente assinalou dois graves problemas de fundo: a confusão entre desenho artistico e desenho rigoroso, e a falta de professores.

Desde o inicio que se estabeleceu uma confusão entre "desenho artístico" e "desenho rigoroso": quer um, quer outro em nada se distinguiam. Ambos seguiam os mesmos métodos, utilizavam o mesmo material didáctico e ocupavam o mesmo tempo lectivo, fosse no ensino elementar fosse no industrial.  

3. Professores estrangeiros. Um problema de longa data no ensino de desenho, foi sempre a falta de professores devidamente qualificados. Desde o século XVIII que a pratica era "importá-los". No regulamento das escolas industriais e de desenho de 6 de Maio de 1884, previa-se uma solução para o problema: a criação de uma Escola Normal de Desenho para formar justamente estes professores. Por falta de autorização parlamentar o projecto não passara, sendo mais tarde recuperado em 1918... A falta de professores qualificados foi de tal forma, que a 23 de Fevereiro de 1888 é autorizado o recrutamento destes no estrangeiro, nomeadamente para o ensino de desenho de arquitectura, mecanica e ornamental. Entre 1888 e 1889, um notável conjunto de professores começaram a ensinar em Portugal: Da Alemanha, Suiça, mas sobretudo da Itália chegaram professores, alguns por cá permaneceram longo tempo, tendo contribuido de forma decisiva para a renovação da arte do tempo; Giovanni Battista Cristo Fanetti ( ? ) na Cinzelagem; Leopoldo Battistini na pintura e ceramica; Cesare Ianz, Ernest Korrodi e Nicola Bigaslia ( ? ) na arquitectura;

     Cedo se levantou um coro de protesto contra a vinda destes estrangeiros: Desde 1892, o Grémio Artistico, por iniciativa de Luciano Freire, tomara a dianteira nestas iniciativas; Bernardino Machado ainda em 1893, opondo-se ás reclamações do Grémio, afirmava que os Institutos afinal não tinham ainda formado professores á altura deste ensino, daí que fosse inevitável o seu recrutamento.

    Apesar da polémica, os resultados deste recrutamento foram muito positivos em diversos domínios.  

4. Rede de Escolas. Na década de oitenta, novas escolas surgiram, algumas transformaram-se  em Escolas Industriais. Em 1890 contavam-se já 14 escolas em funcionamento. Suprimidas 1891, são reconstituídas em 1897, neste ultimo ano estavam reduzidas a 12:cinco pela Circunscrição do Norte e sete pela do Sul. Este numero que pouco variará até 1910.  Esta rede apresentou uma larga distribuição pelo pais, como a seguir se indica[3]: Caldas da Rainha ( Rainha D. Leonor 1884 -1887 ? ); Bragança ( 1888 -1889 ); Figueira da Foz ( 1888-1889)[4]; Porto-Vilar (Infante D. Henrique, anexa ao Museu (  1884 -1891 ); Vila Nova de Gaia ( Passos Manuel - 1884 ); Viana do Castelo ( 1888 ) ; Vila Real ( 1888); Matosinhos ( Gonçalo Zarco ,1889 -1891 ); Lisboa-Belém ( Gil Vicente, anexa ao museu ( 1884- 1891);Lisboa - Alcantara ( Marques de Pombal, 1884-1888 ); Lisboa -Xabregas ( Afonso Domingues 1884-1891 );  Torres Novas( Vitorino Damásio- 1884);  Peniche ( Rainha D. Maria Pia ,1887);  Faro ( Pedro Nunes, 1888- 1891 ); Leiria ( Domingues Sequeira ,1888-1891 ); Setubal ( Princesa D. Amélia, 1888); Alenquer ( Damião de Gois, 1889); Funchal ( Josefa de  Obidos, 1889-1891); Ponta Delgada( Velho Cabral, 1889 ); Angra do Heroismo (António Augusto Aguiar,1889-1891); Viseu ( 1898 - );           

Em construção !

  Carlos Fontes

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Notas:

1]Decreto de 11 de Janeiro (?) de 1837,artigo 3., citado por Joaquim Ferreira Gomes, in, Escolas Industriais e Comerciais criadas no século XIX. Coimbra1978

[2]Decreto de 20 de Setembro de 1844 (DG n.230, de 28 de Setembro de 1844)

[3] Com a indicação da data da criação da escola, ou criação e extinção

4] A Escola de Desenho Industrial da Figueira da Foz foi fundada por Emidio Navarro, atrvaés do decreto de 13 de Junho de 1888, recebendo o nome de Escola Industrial D. Luis por Portaria de 6 de Novembro de 1889, sendo suprimida depois pela re-organização de 8 de Outubro de 1891, para de novo ser restabelecida em 1893...