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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna - II (Século XVIII)

Formação nas Fábricas

As primeiras manufacturas constituíram uma verdadeira revolução no mundo do trabalho ao imporem uma planificação global das suas atividades, resultantes da concentração de um grande número de pessoas num mesmo espaço fechado executando ordens.  As várias fases do processo produtivo foram claramente separadas. O trabalho de concepção do produto adquiriu uma enorme importância. Os improvisos próprios do artesanato deviam ser eliminados. Se uma parte significativa da produção podia ser rapidamente aprendida devido a consistir em tarefas simples e repetitivas, outras haviam que exigiam uma formação técnica e teórica com alguma complexidade.

D. Pedro II - Reais Fábricas

Durante a regência (1668-1683) e reinado de D. Pedro II (1683-1706), após a longa guerra de restauração da independência com a Espanha (1640-1668), como vimos, entre 1675 e 1703 surgiram as primeiras iniciativas para criação de "reais fábricas". O Conde da Ericeira - Luís de Meneses, vedor da Fazenda, baseando-se em discussões e estudos de Duarte Ribeiro de Macedo, Monteiro Paim e outros defendeu a necessidade de uma política de industrialização à semelhança da que estava a ser posta em prática em França. 

Os objectivos eram sinteticamente os seguintes:

1. Equilibrar a balança comercial, asfixiada pela posição monopolista que haviam adquirido os comerciantes ingleses, holandeses e alemães aos quais Portugal se vira forçado a recorrer para vencer o bloqueio comercial, diplomático e militar da Espanha. Estes comerciantes que desfrutavam de inúmeros privilégios opunham-se ao desenvolvimento da industria em Portugal;

2. Substituição das importações de produtos de luxo por produtos nacionais. Para proteger esta incipiente produção nacional foram limitadas as importações através de pragmáticas;

Apesar de todas as resistências, o Conde da Ericeira, com o apoio de D. Pedro II, tomou a iniciativa régia criar as manufacturas para a produção de artigos não militares. Apostou em duas áreas fundamentais:

a) Fabrico de Tecidos. Mandou vir de tecelões e fiandeiros de Inglaterra para instalar uma manufactura de tecidos de algodão em Lisboa. Criou duas manufacturas para o fabrico de tecidos de lã, uma na Covilhã e outra em Castelo de Vide. A mão-de-obra foi recrutada entre os artifices da região de Coimbra.

O Conde de Ericeira, como refere Borges de Macedo, procurava produzir em Portugal sarjas e baetas (panos de lã) que eram importados em grande quantidade de Inglaterra.

b) Fábrica de Vidros. Instalou-se uma fábrica em Lisboa.

Os problemas mais graves que enfrentou esta iniciativa foram o da adaptação ao país os artífices estrangeiros, o escoamento da sua produção e os padrões dos produtos de algumas destas manufacturas que denotavam um gosto provinciano.

Esta iniciativa sofreram um forte revés, primeiro com o êxito da exportação do vinho do Porto para Inglaterra (1680) e sobretudo a descoberta do ouro do Brasil (1696) que vieram resolver o grave problema dos pagamento das importações. A principal razão porque o Estado havia apoiado a criação das "reais fábricas". Depois a assinatura do Tratado de Methwen (1703) ao abrir as portas à livre entrada dos texteis ingleses, consagrava o abandono dos incentivos ao desenvolvimento da industria que pioneira da Revolução Industrial.

D. João V - Manufacturas Reais

Durante o longo reinado de D. João V (1706 – 1750), embora de forma pouco consistente, entre 1720 e 1740, retomou a política de criação de manufacturas que visavam renovar o tecido produtivo e substituir por produção nacional muitas dos produtos importados.

O crescente poderio da Inglaterra, em grande parte fruto da sua industria , mas também exemplo deixado em França por Jean-Baptiste Colbert (1619 - 1683) de intervenção do Estado na economia, mostravam que Portugal o caminho a seguir.   

Durante este reinado são de destacar as fundações das reais Real Fábrica de papel de Nossa Senhora da Lapa (S. Paio de Oleiros,1708), pelo genovês José Maria Ottone, ou Ottom, de sociedade com Vicente Pedrossen, a fabrica de papel da Lousã (1715-17), de vidro de Coina (1722-7), da fundição de Santa Clara em Lisboa (1726), de pólvora de Alcântara (1727) e de Barcarena (1729), de couros de Alenquer (1728-45), Real Fábrica de Atanados da Vila de Povos (1729), de sedas de Lisboa (1730-35), mas também a renovação nas ferrarias da Foz do Alge e de Tomar, na construção naval do Porto (1735) e de Lisboa (15). Para a criação e funcionamento destas fábricas, como era hábito, foram recrutados mestres e operários no estrangeiro.

Nesta política de fomento industrial, para além da exiguidade do seu mercado, faltava uma aposta firme na formação profissional que permitisse a transmissão dos novos saberes.   

D. José I - Marques de Pombal - Reais Fábricas

Marquês de Pombal, entre 1750 e 1777, retomou a política mercantilista anterior, mas deu-lhe uma outra consistência ao desenvolver um amplo programa de criação de reais fábricas segundo uma estratégia que a médio e longo prazo visava, não apenas substituir as grande parte das importações por produtos nacionais, mas também recuperar o atraso do país em termos de industrialização. Não nos podemos esquecer que Marques de Pombal foi contemporâneo do inicio da Revolução Industrial inglesa. Os seus espiões informavam-no de tudo o que nesta matéria andava a ocorrer na Europa. O programa pombalino assentava em resumo nos seguintes tópicos:

a) Criação de um organismo coordenador da política industrial. A Real Junta de Comércio (criada em 1756) que congregava os interesses do Estado e dos homens de negócio.

b ) Criação das reais fábricas em sectores estratégicos que evitassem importações, mas que também se distribuíssem pelo país de modo a potenciar recursos e capacidades produtivas locais. Procurou também fomentar a criação de fábricas de transformação de produtos de origem colonial, como o algodão, os couros, açúcar e os tabacos.

 

c) As fábricas reais eram financiadas pelo erário público na totalidade ou em parceria com privados. Este financiamento publico suprimia a carência de recursos dos privados, acentuada pela longa perseguição religiosa aos "cristãos novos", a elite empreendedora do país. Nos séculos XVII e XVIII não foi criada em Portugal nenhuma grande fábrica com capitais exclusivamente privados. Foi aplicada uma taxa alfandegária de 4% sobre as importações para financiar a produção interna.

 

d) A concessão das mesmas era limitada no tempo (10, 12 anos...) permitindo avaliar, manter, corrigir ou anular os termos da concessão. Estas concessões estava apoiadas em privilégios (exclusividade de produtos, por exemplo), isenções fiscais e outras. A política pombalina fez quase sempre passar estas iniciativas à margem das estruturas corporativas, nomeadamente para as licenças de novas concessões.

 

e) Edifícios próprios. Em muitos casos as reais fábricas foram instaladas em magníficos edifícios industriais construídos de raiz, o que mostrava que se perspectiva uma longa vida para a sua existência. A arquitectura industrial concorria para condicionar e disciplinar as massa de operários e aprendizes que ali trabalhavam.

 

f ) A contratação de mestres e operários qualificados estrangeiros era feita não apenas para que os mesmos orientassem a produção, mas também para participassem no processo de formação de novos mestres;

 

g ) A mão-de-obra devia ser nacional. A grande novidade era todavia o emprego forçado de crianças como aprendizes, provenientes das instituições que albergavam crianças expostas na roda ou abandonadas. A esmagadora maioria vivia nas reais fábricas em regime de internato, para onde entrava depois dos 6 anos de idade com base num "contrato de aprendizagem".  Muito raramente a formação num dado ofício, muito variável, envolvia a aprendizagem da leitura e da escrita. A quase totalidade das crianças continuavam analfabetas. Se adoeciam, revelavam alguma enfermidade ou não excessiva rebeldia eram devolvidas às instituições.  As que fugiam se eram apanhadas sofriam pesados castigos. 

Este recrutamento intensivo de crianças permitia minorar um problema social que era o aumento de crianças abandonadas, sem perspectivas de futuro e que acabavam por engrossar o número dos marginais (mendigos, vadios, prostitutas, etc).

 

h ) Algumas destas reais fábricas tornaram-se "reais fábricas-escolas" , onde não apenas formavam novos mestres, mas igualmente tinham competência para avaliarem projectos de novas fábricas. O Arsenal da Marinha e o do Exercito, a Real Fábrica das Sedas do Rato, a Imprensa Régia e a Real Fábrica Vidros da Marinha Grande, foram os exemplos mais marcantes deste movimento. Com excepção do caso da Marinha Grande, assiste-se mesmo à sua transformação em verdadeiras escolas de ofícios.

Entre 1750 e 1777 foram criadas ou reformadas cerca de duas centenas de fábricas, sobretudo na região de Lisboa e Porto, mas também em localidades como Alcobaça, Tomar, Azeitão, Covilhã ou Portalegre. Os produtos foram muitos variados desde as sedas, lanificios, tecidos de algodão, vidros, couros, chapéus, açúcar, gravatas, pentes, cartas de jogar, louças, papel, sabão, botões, etc..A industria militar sofreu também um grande desenvolvimento.

 

O modelo destas reais fábricas foi replicado por Marques de Pombal também  no Brasil e houve tentativas também em Angola.

 

D. Maria I - Intendente Pina Manique

Após a morte de D. José I (1777), e o consequente afastamento do poder do Marquês de Pombal, assiste-se a uma lenta mudança de políticas, onde se faz sentir as ideias fisiocratas. Os custos das reais fábricas começam a ser encarados como insustentáveis, e progressivamente são entregues a privados, como aconteceu com as manufacturas de Portalegre, Fundão, Covilhã, etc.

 

A Junta de Comércio é desligada da industria. Para esta função política é criada a Junta de Administração das Fábricas do Reino e Águas Livres (18/7/1778), mais tarde transformada na Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegações deste reino e seus domínios (26/9/1788).

 

A política de emprego forçado de crianças nas fábricas estende-se ao marginais (mendigos, vadios, prostitutas...), encarceradas em instituições são postas em trabalhar, quer em oficinas anexas às mesmas, quer enviadas para fábricas nas proximidades. A Real Casa Pia de Lisboa (1780) será neste aspecto uma instituição modelar.

O impulso dado pela política económica e de formação profissional de Marques de Pombal permitiu que depois de 1777, não apenas aumentassem o número de fábricas, mas se mantivessem a maioria das estruturas de formação que haviam sido criadas.

 

Não é consensual o balanço estritamente económico das reais fábricas, a esmagadora maioria acabou abandonadas quando cessou os financiamentos do estado. No entanto várias localidades, com a Marinha Grande (vidros) ou a Feira (papel) deveram a sua projecção económica a uma destas fábricas.

 

Alguns exemplos de reais fábricas:

1. Real Fabrica das Sedas e Fabricas Anexas

A origem da Real Fabrica das Sedas, remonta ao século XVII, quando foi criada em 1678 a  Fábrica Real de Lisboa; situada perto das Portas de Santa Catarina este estabelecimento constituiu um dos maiores empreendimentos do  século.  Ai trabalharam cerca de 300 pessoas , na produção de tafetás, gorgojões, galas, cetins, e outros panos de luxo. A fábrica acabou por falir passado poucos anos. Em 1730 e 1731 , graças á iniciativa do francês Roberto Godin, que se proponha lavrar sedas com ouro, prata e matizes , e outros tecidos de luxo, uma nova tentativa surgia e a realizar. A 23 de Fevereiro de 1734 era-lhe concedido  um alvará para o efeito. Neste contrato estabelece-se de forma clara, as regras de aprendizagem  que seriam seguidas na fábrica, assim como o numero de aprendizes portugueses que a mesma seria obrigada a ter.

Anos depois esta empresa, procurava a transferência da fabrica para o Rato, o que acontecerá em 1740. Os prejuízos devido em parte a uma má gestão, foram-se acumulando, e o  Estado teve que intervir. Marques de Pombal aproveitou a oportunidade e criou a Fabrica Real de Sedas no  Rato (Alvará de 6 de  Agosto de 1757) definindo-lhe objectivos claramente formativos.

 Marques de Pombal, segundo Jacome Ratton, sob o pretexto que a mesma não dava lucros, pretendeu transformá-la então num "Colégio Real das Manufacturas Nacionais". O certo é que a fábrica, sob administração da Junta de Comércio, ultrapassou rapidamente uma formação para as suas necessidades próprias, e tornou-se numa espécie de conservatório de artes do tempo.

Em torno da Real Fábrica das Sedas foi sendo criada uma rede de pequenas fabricas, em regime de trabalho ao domicilio, construindo-se para o efeito o Bairro das Aguas Livres ( Decreto de 14 de Março de 1759 ). Na dependência da Real Fábrica de Sedas, em 1776, contavam-se 30 unidades produtivas com um total de 3.569 pessoas, fabricando uma enorme variedade de produtos desde lacres a chapéus, limas, meias, etc.

Aprendizagem

Os novos Estatutos da fabrica de 1757, no seu artigo 10º., estabelecia que todos os teares de  seda, estabelecidos em Lisboa e seu termo, formassem uma "corporação". A Junta de Comércio que dirigia todo o processo, deveria expedir gratuitamente aos seus artífices, que trabalhassem  fora do estabelecimento, as cartas  de "incorporação", depois de haverem provado, por exame feito diante da direcção, que tinham habilitações suficientes.

A aprendizagem era fixada em cinco anos, não podendo, durante este prazo, os aprendizes ausentar-se de casa de seus mestres, sob pena de serem presos, onde quer que se achassem, e remetidos á sua própria custa e de seus fiadores, para servirem , além dos referidos cinco anos, dobrando tempo daquele em que houvessem estado ausentes. Os aprendizes, em compensação , não podiam ser despedidos pelos mestres sem causa legitima e aprovação  da direcção. Aos mestres ( e a quaisquer pessoas ), impunha-se , além disso, fortes multas se consentissem em suas casas os aprendizes fugitivos, revertendo as  quantias cobradas em beneficio dos mestres de cujas casas se tivessem retirado indevidamente ( art. 12 e 13. ).

A multa seria calculada tendo em conta o dobro de todo o tempo que faltasse para preencher os cinco anos de aprendizagem.

No artigo 13, aos artifices examinados e incorporados , para que não faltasse o necessário para viverem, ordenou a direcção, que fosse fornecido um tear para iniciarem o oficio. O decreto determinava ainda que os que se encontrassem já estabelecidos, e precisassem de auxilio , se dessem sedas, matizes e desenhos , adquirindo-lhes depois as obras para o armazém central, com o desconto de da quinta parte. Deste modo, a Fabrica Real  se iria pagando dos seus próprios fornecimentos: teares, matérias -primas e tudo o que era necessário á laboração. Caso o trabalho do novo oficial, não fosse adequado, e provando-se que não estudava, cessava todo o beneficio e eram penhorados todos os  bens.

Cada mestre podia ter em sua casa até quatro teares e quatro aprendizes. Os aprendizes que trabalhavam por conta da fábrica constituíam uma comunidade com a sua cozinha, o seu refeitório, enfermaria, médico e cirurgião, tudo pago pela direcção. Os aprendizes estavam sob a vigilância do contramestre que os ensinavam.

Nesta fábrica os trabalhos de inovação estiveram igualmente na ordem do dia, em áreas como a tinturaria, desenho, calandragem, métodos de engomar, aperfeiçoamentos na fiação e torcedura.

Não faltaram os mestres reputados e um sistema próprio de ensino para estas áreas novas. Na Repartição das Sedas salientou-se o mestre de desenho, o debuxador Joseph May (12), que veio de Lyon. na Tinturaria, celebrizou-se o mestre Louis La Chapelle, igualmente frances, que praticou o seu oficio com tal mestria e o ensinou, que acabou vestindo o habito da Ordem de Cristo, e chegando mesmo á direcção da própria empresa.

A partir de 1757, a  Real Fabrica conheceu um rápido crescimento que tornou necessário a sua reforma. Em 1770, introduziram-se importantes modificações nos seus estatutos:  

     - Os aprendizes foram desligados da comunidade estabelecida, recebendo em paga um subsídio de 100 reis diários; exceptuaram-se somente os aprendizes de fora da cidade , aos quais se permitiu continuarem a morar na fábrica até concluírem a aprendizagem.   

     - A incorporação de todos os fabricante de sedas na Real Fábrica tornava-se impraticável á proporção que o seu numero aumentava. Este facto veio a  permitir que primeiro aos mestres fossem sendo concedidas autorizações para fundarem oficinas próprias, ainda que sujeitas a regras corporativas comuns destinadas a minorar a concorrência, nomeadamente pela imitação de desenhos dos tecidos, e mais tarde por resolução régia de 14 de Janeiro de 1811, extinguindo-se as corporações e permitindo-se a liberdade de produção.

Estuques

A Real Fabrica das Sedas foi como dissemos um centro irradiador da instrução de outros ofícios, sob a inspecção da direcção deste estabelecimento: o ensino de desenho e fabrico de estuques criado a 28 de Agosto de 1764  estava na dependência directa dos seus directores. Uma das inovações destas aulas era o de decorrerem em espaços próprios que eram distintos dos postos de trabalho. Para o ensino de estuques foi chamado o milanês Giovanni Maria Teodoro Grossi (13).

Ainda em 1771,  o alvará de 23 de Dezembro de 1771, confirmava que o mestre  deste estabelecimento tinha ensinado e continuava a ensinar os artifices portugueses nesta arte, para grande utilidade publica na reedificação de Lisboa. 

Pelo mesmo alvará determinava-se que nenhum mestre pedreiro ou carpinteiro podia contratar ou fazer obras de estuques, desde que não tivessem sido formados ou examinados pela Inspecção da Real Fábrica de Sedas, exceptuando-se os moldureiros. Aos examinados por esta Inspecção era imposta a obrigação de aceitarem, pelo menos, dois discipulos de aula de desenho e fabrica de estuques, que tivessem sido aprovados pela mesma Inspecção.

Outros Ofícios

Por iniciativa da direcção esta Fabrica a criou-se também o ensino de cutelaria, relojoaria, fundição, cobres, serralharia e outros oficios.

Segundo Jacome Ratton, o ensino da "cutellaria" esteve a cargo  mestre Dutoit, frances, do qual foram aprendizes os melhores mestres daquela arte que hoje existem no reino; o de relojoaria foi dado pelo mestre mr. Bethoud , também francês; regista também o trabalho de ensino de mestres e artistas de fundição de  metais, principalmente de cobre; assim , como o estabelecimento de dois insignes mestres em serralharia , chamados Schiapapietre, irmãos , de nação genovesa" [1].

As aulas de desenho embora com uma existência atribulada devido à conjuntura do tempo prolongaram-se até 1831, o que revela bem a importância que esta arte havia adquirido.

1.1. Real Fábrica de Botões (Rato)

Fundada pelo mestre Bartolomeu Orsini (ou Ursini) em 1766 laborou até 1777.

1.2. Real Fábrica de Pentes de Marfim, Caixas de Papelão e Vernizes (Rato)

1.3. Real Fábrica de Relógios (Rato)

Fundada em 1765 para além do fabrico de relojoaria mecânica , também estudava ciência gnomónica. O Museu da Marinha possui um interessante Relógio de Sol equatorial fabricado e concebido por por André Berthet, em Lisboa (1774.

1.4. Real Fábrica de Louça (Rato)

Fundada a 1 de Agosto de 1767, tinha como mestre Thomas Brunetto. À semelhança de outras fábricas reais de Lisboa teve um importante papel formador de novos mestres na arte da faiança, assegurando igualmente a qualidade da produção no país através dos exames que eram aqui realizados aos mestres. O marques de Pombal através de várias medidas proteccionistas permitiu a rápida expansão da faiança em Portugal, de que se destacam a Fábrica de Massarelos (Porto, 1766), Real Fábrica do Cavaquinho  (Vila Nova de Gaia, 1768-1897),  Real Fábrica da Bica do Sapato (Lisboa, 1796), Fábrica do Rocio de Santa Clara fundada pelo mestre Domingos Vandelli (Coimbra, 1789), etc.

2. Real Fábrica de Chitas de Azeitão

Fundada em 1775. Foi instalada no antigo Palácio dos Távoras

3. Fabrica de Noel le Maitre em Tomar

A fábrica das sedas do Rato não se limitava a formar e a examinar os novos mestres, mas também tinha a sua cargo autorizar e apoiar financeiramente a criação de novas manufacturas. Foi nesse sentido que o francês Noel le Maitre, mestre nesta fábrica, solicitou à sua direcção autorização e financiamento para a criação de uma fábrica de meias de seda, lã e algodão em Tomar. Em 1771 foi-lhe concedida a respectiva autorização, entre as condições que teria que obedecer estava a obrigação de ensinar sucessivamente 30 aprendizes em conformidade com o estabelecido no Capítulo 12º. dos Estatutos da Real Fábrica de Sedas. Teria que os sustentar e alojar à sua própria custa, sem reclamar qualquer prémio por este beneficio.  Em 1789 

3. Real Fábrica de Chapéus em Pombal

Foi criada em Março de 1759, tendo como directores José Rodrigues Bandeira e José Rodrigues Esteves. Funcionou como uma verdadeira escola de formação. Tinha 24 aprendizes e o tempo de aprendizagem era de 5 anos.

5. Real Fábrica de Lençaria e Tecidos Brancos de Alcobaça

Fundada em 1774, numa iniciativa de António Rodrigues de Oliveira, André de Faria Rocha, Fernando António de Sousa Teles e Francisco Rodrigues de Oliveira, sobreviveu até 1825.

6. Real Fábrica de Panos da Covilhã

Fundada a 26/6/1764 pelo Marquês de Pombal destinava-se ao fabrico e ultimação de de panos (tinturaria, acabamentos, etc). À semelhança de outras reais fábricas funcionava também como uma escola de aprendizagem em regime de internato para crianças orfãos e abandonadas, com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos. Este espaço fabril esteve em actividade até ao último quartel do século XIX.

6. 1. Real Fábrica de Lanifícios do Fundão

Em 1755 e por ordem do Marquês de Pombal, iniciaram-se as obras no edifício que iria acolher a Real Fabrica de Lanifícios do Fundão, a laborar a partir de 1764, onde se encontra actualmente a da Câmara Municipal desta cidade. A manufactura foi criada de raiz, para a qual foram contratados mestres estrangeiros, que tinham também com incumbência o ensino dos aprendizes.

Antigo Colégio de São Sebastião, fundado em 1605. Após a expulsão dos jesuítas (1759) passou a propriedade estatal. Foi aqui instalada a Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre (1772). Aqui funciona actualmente a Câmara Municipal de Portalegre.

6. 2. Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre

A Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre foi criada em 1772, sobreviveu à queda do Marquês de Pombal. Ocupou as instalações do antigo Colégio jesuíta de S. Sebastião. Em 1781 passou a ser gerida pela Junta da Administração das Fábricas do Reino e Obras de Águas Livres por decreto de 25 de Janeiro de 1781.Em 1788 foi a sua gestão entregue a particulares, por um prazo de 12 anos, sob a inspecção da Real Junta do Comércio. Em 1799 foi foi reunida às Reais Fábricas de Lanifícios da Covilhã e Fundão.

7. Real Fábrica de Lanifícios de Cascais

Por resolução da Junta de Comércio de 4 de Janeiro de 1774, foi criada por o francês Francisco Mailhol e Manuel Pereira Guimarães,  a Real Fábrica de Lanifícios de Cascais. Funcionou até 1816.

8. Fábrica de Algodão de Aveiro

Fundada por o italiano João Baptista Locatelli (16) que obteve em 1769 o privilégio de ensinar a cardar e a fiar algodão em rama e de fundar fábricas (17). A sua acção como formador alarga-se a muitas localidades de Portugal. O seu objectivo era formar mestres que depois explorassem o trabalho ao domicilio.

9. Real Fábrica de Tapeçarias de Tavira

A política de fomento industrial regista na região do Algarve este caso de sucesso embora efêmero. A Junta de Comércio, em 1776, autorizou e apoiou financeiramente a criação de uma fábrica de tapeçarias em Tavira de seda e Algodão idênticas às que se importavam da Europa e da Ásia. A iniciativa foi do tapeceiro francês Pedro Leonardo Mergoux e do seu sócio português Teotónio Pedro Heitor . Como era regra, o apoio foi concedido na condição de empregar pelo menos seis aprendizes, os quais deviam ser matriculados na Junta do Comércio e seus domínios, o que de facto veio a acontecer. Da sua produção forma já identificadas duas tapeçarias. Fechou em 1780.

10. Fábrica das Caixas no Arco Cego

Na Fábrica das caixas no Arco Cego, fundada em 1767 pelo napolitano José Francisco del Cusco, ainda mal estudada, houve ao longo da segunda metade deste século, com alguma regularidade, o ensino de desenho e pintura.

11. Real fabrica de vidros da Marinha Grande

 A Real fabrica de vidros da Marinha Grande foi a mais estudada entre as muitas escolas criadas em fábricas no século XVIII.

A Fabrica de Vidros de Coina construída entre 1719 e 1727 devido à falta de lenha tardou a entrar numa profunda crise. Em 1748 foi transferida para a Marinha Grande, tendo em vista tirar partido das reservas de madeira do Pinhal de Leiria. Medida que se veio a revelar acertada. Contudo, devido á falta de uma gestão proficiente e de operários qualificados, acentuaram-se os fenómenos de decadência.

A poderosa Junta de Comércio pombalina, a 7 de Junho de 1769, acaba por conceder ao ingles Guilherme Stephens um conjunto de condições que lhe permitiram relançar, com exito o projecto da criação da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande. Significativamente, logo no artigo 3. do seu Alvará, estabelece-se que : " A fabrica conservará sempre 6 aprendizes  portugueses , os quais estarão precisamente cinco anos a aprender toda a qualidade de manufactura  relativa a esta fabrica, que os mestres serão obrigados a ensinar-lhes , sem reserva de segredo  algum (...), e, sendo acabados os cinco anos , estando aptos para poderem ser examinados , será obrigada a fabrica a ocupá-los no seu serviço por oficiais, pagando-lhes o competente ordenado conforme o merecimento".

Marques de Pombal tem a clara percepção que, numa primeira fase, o país teria que recorrer a técnicos estrangeiros, mas sempre garantido a transferência dos seus conhecimentos através da formação de técnicos portugueses. 

Esta fábrica na Marinha Grande foi bem o exemplo deste caminho, pois seria durante o periodo de gestão dos irmãos Stephens que se formariam a primeira geração de mestres vidreiros, que depois se multiplicariam ao longo dos anos. Esta prática não foi unica no sector, sendo mesmo muito seguida por diversas razões. Por exemplo, em finais do século XIX, num dos periodos de expansão da industria vidreira, as fabricas da Amora e de Braço de prata, montaram um sistema próprio de formação, tendo recrutado para o efeito mestres alemães e Belgas para formar os seus aprendizes ( cf. A Autonomia, 14 de fevereiro de 1892 ). Os mestres portugueses frequentemente também se recusavam a ensinar os novos aprendizes, afim de protegerem os seus lugares.

12. Fabrica de Sedas de Chacim

No final do século, a Fabrica de Sedas de Chacim constituiu outra experiencia a reter, neste modelo de formação profissional.

Ultrapassado o período pombalino, onde o Estado tudo ditava em matéria de formação, entrou-se numa nova fase em que o Estado assume um papel menos dirigista, e remetendo-se para uma função normativa das iniciativas privadas.

Nas ultimas décadas do final do século XVIII, a sericultura conheceu alguma animação no Nordeste Transmontano, embora sempre enfermada de um problema grave: os deficientes métodos e técnicas de trabalho. Por iniciativa de José Maria Arnaud, italiano, foi criada em Chacim uma Fábrica de Sedas segundo os métodos de piemonte. Assim, como lhe é autorizada a abertura de "escolas" para ensino deste método. Por carta régia de 23 de Outubro de 1778, determinava-se que nas regiões onde houvesse maior produção de seda, deviam  de ser criadas escolas de fiação em máquinas de piemonte, e o método a seguir seria o desta região de Itália. Naturalmente, a licença para a primeira escola  foi concedida a José Maria Arnaud, e a dois filhos deste. A primeira escola abriu na vila de Chacim em Trás-os-Montes, devendo servir de modelo ás novas escolas a criar.

Em 1790 eram já visiveis os progressos destes métodos nesta vila e na região: Em Chacim existiam 5 fábricas de seda, um filiatório piemontes, 40 carrilhões, 4 tornos de torcer e 37 teares, ocupando 143 pessoas, produzindo veludos, cetins, tafetás, mantos, grodelunios, sarjas, pelucias e nobrezas. Em 1794 o numero de trabalhadores aumentava já para 479 pessoas, de ambos os sexos. Só na Escola de Fiação  piemontesa haviam 6 homens e 88 mulheres, para além de revelar uma importante produção. Na Comarca de Bragança a situação náo era pior: duas escolas pelo método piemontes, em Sanfins e Valpaços, onde trabalhavam 40 pessoas[8].

Apesar destes progressos, tudo foi sol de pouca dura. A baixa qualidade da matéria prima, a concorrência estrangeira, e continuação das deficientes técnicas de fiação e tecelagem da seda acabaram por lançar a industria numa crise que terminará com a sua extinção.

  A divulgação e aceitação das novas técnicas piemonteses revelaram-se dificeis, porque não só os Arnauds as monopolizavam ciosamente, como os artifices se mostraram renitentes a aplicá-las, preferindo continuar com os seus rudimentares processos[9]

O processo de ensino nestas escola foi registado por José Silvestre Ribeiro[10].Não era feito de forma individualizada, mas envolvia grandes grupos de alunos.

O projecto dos Arnauts não terminou em Trás-os-Montes, pois já a 24 de Janeiro de 1812, a Gazeta de Lisboa", noticiava que Filipe Arnault era o Director e Professor da Real Companhia das Fiações e Torcidos das Sedas, no Campo Pequeno em Lisboa. Arnault tinha a seu cargo o ensino dos oficiais de torcedor ou dobadeiras. Contudo a decadência da sericultura era uma realidade quatro anos depois, sendo praticamente abandonada entre nós[11].

12. Casa Literária do Arco Cego

A Casa Literária do Arco Cego, criada em 1800, pelo Pe.Veloso e D. Rodrigo de Sousa Coutinho, possuía uma Oficina Calcográfica Typoplástica e Literária, no qual foi criado um sistema de ensino de gravura de caracteristica modernas. Através de um conjunto de aulas o aprendiz recebia uma formação prática muito ampla. As aulas de desenho eram dirigidas por José da Cunha Taborda, a aula de iluminação de estampas foi confiada a Guilherme de Casturigh, e a de retratos a Máximo Paulino dos Reis. Por Alvará de 7 de Dezembro de 1801, estas oficinas, com os seus 34 gravadores foram integradas na Imprensa Régia.  Terminava assim ingloriamente uma experiencia que muito prometia no campo da formação profissional.

Em Construção ! 

Fábricas Militares

Os arsenais do exército e da marinha eram os maiores complexos industriais de Portugal empregando milhares de trabalhadores nas suas diversas fábricas. Estes arsenais contavam já com uma longa tradição na formação profissional que o Marques de Pombal aproveitou para expandir.

Arsenal Real do Exercito

A reconstrução do Arsenal Real do Exercito em Lisboa, depois do terramoto de 1755, foi acompanhada da criação de uma escola de aprendizes. Era aqui desde D. Manuel se procedi á fundição dos canhões, havendo já no século XVII no local já duas importantes fundições.

As obras de engrandecimento deste Arsenal devem-se a D. João V, o qual após o grave incêndio de Julho de 1726 o mandou remodelar por completo[2]. Depois do terramoto o edificio sofreu novas modificações sob a direcção do arquitecto Carre.

Na oficina de Fundição de Artilharia desde pelo menos desde 1749 funcionava já aqui uma escola de desenho e gravura de metais, sob a direcção do abridor de cunhos João Figueiredo. José Augusto França[3]  foi o primeiro a realçar o carácter pioneiro desta escola no ensino das "belas artes" entre nós, [4]. Em 1809, na direcção da escola, sucedeu a este mestre, o seu filho António Joaquim. Era comum a sucessão de país para filhos, no lugar de mestres num oficio, ou nas aulas que eram estabelecidas desde o século XVI. Este é apenas mais um caso.

Cerca de cem anos depois do seu provável inicio, o ensino profissional mantinha-se ainda neste estabelecimento. Em Julho de 1863,por exemplo, o inspector Geral do Arsenal do exercito obtinha da Câmara de Lisboa, autorização para armar uma barraca, junto á praia para "os banhos dos alunos do colégio de aprendizes do mesmo arsenal"[5]

Arsenal Real da Marinha

Real Fábrica de Cordoaria

Reais Fábricas da Pólvora

 

Outros Estabelecimentos Estatais

Régia Oficina Tipográfica

A expansão da impressão durante o reinado de D.João V, embora tivesse atingido notável brilho, fora essencialmente sustenta por artistas estrangeiros que aqui trabalharam. Faltou-lhe contudo uma continuidade adequada, embora tenha ficado a obra realizada. Em simultâneo com a criação da Régia Oficina Tipográfica, por Marques de Pombal, foi também estabelecido em 1768, em anexo a esta oficina, uma aula de gravura[6], sendo a mesma ministrada por Joaquim Carneiro da Silva. Afim de estimular o empenho neste ensino, para além do ordenado, este gravador, recebia ainda um prémio de 40$00 por cada aluno que completasse a aprendizagem, e pudesse ser considerado um artista. "Este Prémio só foi concedido apenas uma única vez em 19 anos, a Eleutério Manuel Barros, durante todo o periodo em que Carneiro da Silva dirigiu a aula"[7], e de que foi aliás o principal animador . Nesta escola saíram alguns notáveis gravadores, para além de Eleutério M. Barros, cita-se Gaspar Fróis Machado.

Após a saída de Joaquim Carreira da Silva em 1786, nunca mais a escola atingiu o seu brilho inicial. Pelo Alvará de 26 de Janeiro de 1802 foi transformada na "Escola de Gravura", que ficou sob a direcção de florentino Francesco Bartolozzi e do seu discipulo Gregório Francisco de Queirós. Por decreto de 21 de Janeiro de 1805, foi a Escola desanexada da Imprensa Régia, ficando na dependência da inspecção do ministro e secretário de estado dos negócios estrangeiros e da guerra. A confusão foi então tremenda. Bartolozzi passou a ministrar  as aulas de gravura na sua própria casa, o que traduziu-se numa diminuição da qualidade deste ensino. Após a morte deste gravador em 1815( ?), sucedeu-lhe na direcção da escola Gregório Queirós. Apesar desta mudança, a escola já mais recuperou da decadência em que havia entrado.

Casa da Moeda

Na Casa da Moeda, em Lisboa, desde 1720 ou 1721 terá existido aí uma escola de abridores de cunhos, formada aquando da vinda para Portugal de António Mengin. Em 1773 estava á frente desta escola, o flamengo Joseph Gaspert, a que sucedeu Simão Francisco dos Santos, por morte deste em 1812. Um exemplo raro de continuidade de ensino profissional entre nós.

 

Mestres e o Ensino. Expansão de Saberes

Ensinar um dado ofício ou um dada técnica, ontem como hoje, pode significar uma dada desvalorização de alguém no mercado de trabalho. Outros passam a poder exercê-lo, eventualmente melhor e a um custo inferior. Nesse sentido, quase nunca era fácil convencer um mestre a  ensinar aos aprendizes as técnicas e os "segredos" da sua profissão.

Se muitos mestres portugueses, como vimos, se recusavam a ensinar o seu ofício, a situação era também muito frequente com os mestres estrangeiros.

A maior parte dos mestres das manufacturas eram estrangeiros, para além do exercício da sua profissão, eram pagos para ensinar, o que muitas vezes recusavam fazê-lo. Um dos casos mais conhecidos foi o que aconteceu nas fábricas de estamparia que começam a proliferar em Portugal depois de 1780.

O trabalho desta fábricas revestia-se de bastante complexidade requerendo várias espacialidades: mestres de estampagem, abridores de estampas, coloristas, etc. A maioria destes mestres eram estrangeiros, implicando elevados custos os seus serviços.

A aprendizagem dos portugueses era muito deficiente, porque estes se recusavam a ensiná-los. Um fabricante dizia acerca das fábricas em 1792: "(...) os Mestres dellas erão Estrangeiros, que nenhuma sorte querião ensinar a fazer as tintas fixas das chitas Portuguesas" (14). Uma situação que ainda se mantinha em 1881.

O ensino profissional no século XVIII raramente ultrapassou uma dimensão individual na aprendizagem, baseada na relação mestre-discípulo, imposta pelos regimentos corporativos. O aprendiz num longo processo de aprendizagem observava o seu  mestre  e repetia o que o mesmo fazia sob as suas ordens. A instrução dos aprendizes era claramente desvalorizada. O importante era que aprendessem rapidamente a executarem um conjunto de tarefas, ainda que fossem analfabetos.

O local de aprendizagem era o próprio posto de trabalho.

Os raros casos de formação em grupo, em espaços próprios separados dos postos de trabalho, reflectem os novos processos que estavam a emergir e ultrapassavam as limitações da aprendizagem centrada na repetição.  O século XIX encontrou para este problema uma nova formula da formação, quando juntou num mesmo edificio, o saber teórico das escolas com um ensino prático simulado numa oficina.  

Outros dos grandes problemas destas iniciativas industriais e da própria formação é que a mesma tendia a circunscrever-se à próprias "reais fábricas", não tendo grande reflexos locais, nem na produção global do país. Eram situações isoladas, por mais excelentes que pudessem ser. O contexto cultural e económico não as conseguia integrar.

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

[1]. citado por J. Ribeiro , Vol.I, pag.320.

[2]. Escreve Julio de Castilho: "D. António de Sousa fala das máquinas que no reinado do Senhor D. João V foram montadas em Lisboa, para a fabricação das armas e peças de artelharia e os novos e bem equipados armazés", in A Ribeira de Lisboa, Vol. I, pag.187.

  [3] J. Augusto França,

[4]. Acácio de Paiva Belmiro, O Século Cómico, de 20/3/1913.

[5]. Julio de Castilho, ob. cit. pág.181.

[6] No Alvará datado de 24 de Dezembro de 1768,escrevia-se no $11:"Sendo presentemente necessário que no corpo de uma impressão Régia não falte qualquer circunstancia que a faça defeituosa; e sendo um dos ornatos da Imprensa, as estampas, ou para demonstrações ou para outras muito utilissimos fins, terá a mesma impressão um abridor de estampas, conhecidamente perito, o qual terá a obrigação de abrir todas as que forem necessárias para impressão e se lhe pagarem pelo seu justo valor". O Abridor de estampas escolhido foi o bolseiro da Academia de Roma, Joaquim Carneiro da Silva.

[7]História da Gravura Artistica em Portugal, Ernesto Soares, Vol.I,Lisboa.1971

[8] Columbano Pinto Ribeiro de Castro. Mappa do estado Actual da Provincia de Trás-os- Montes. Códice Ms.Original do Arquivo da Assembleia da Republia.fls.35 e 66

 [9]. Fernando de Sousa, A Industria das Sedas Em Trás-os- Montes (1793-1813), in, Revista de História Económica e Social. n.2, Julho/Dez.1978.

[10]. José Silvestre Ribeiro , Història dos estabelecimentos Scientificos e Litterários  e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarchia. Lisboa. Tipografia da Academia das Ciencias de Lisboa. Lisboa. 1871 ( ? ), Vol.II, pág.109 e 110.

[11]Julião Soares de Azevedio, Condições Económicas da Revolução Portuguesa de 1820. Básica Editora. Lisboa.2. Ediçãio.pag.154

(12)  Joseph May, debuxador e lente da aula de desenho da fábrica, exerceu a sua actividade na mesma entre 1764 e década de 90 do século XVIII (cfr. Francisco dos Santos, Celso - João Maria Policarpo May. Debuxador e lente da aula de desenho da real fabrica de sedas, in, Revista da Faculdade de Letras. Ciência e Técnicas Patrimoniais. Porto. 2002)

(13) Isabel Mayer Godinho Mendonça - Estucadores do Ticino na Lisboa joanina, in,

(14) citado por Jorge Miguel Pedreira - Industria e Negócio: a estamparia da região de Lisboa, 1780-1880, in, Análise Social, Vol. XXVI, 1991

(15) Nuno Salgueiro - Fabricar o Território...

(16) Inês Amorim - A Fábrica de Algodão de Aveiro 1769/78, in, Revista da Faculdade de Letras...

(17)  Inês Amorim - Aveiro e a sua Provedoria no séc. XVIII (1690-1814) - estudo económico de um espaço histórico, Coimbra, CCRC, 1997, p. 471-487.

(18) Mesquita, Carlos Vilhena - "Tavira e o Marquês de Pombal e a Fábrica de Tapeçarias. Universidade do Algarve.