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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Idade Moderna - I

Mestres Estrangeiros

"Portugal tem sido encarado exclusivamente como um país de emigração. É uma imagem que merece ser reconsiderada"[1].

Um pequeno pais que em 1527 não ultrapassava 1.400 000 habitantes e em 1732, tinha cerca de 2.143 368, situado num canto da Europa, entre o mar e a hostil Espanha, teve que desenvolver estratégias próprias para assimilar os últimos progressos técnicos da civilização, sem os quais ficaria remetido ao seu próprio isolamento.

 O envio de portugueses para estudar no estrangeiro desde muito cedo, constituiu o recurso privilegiado para por o país a par do resto da Europa. O recrutamento de estrangeiros foi também até ao século XX, um dos expedientes mais utilizados, para obviar a falta mestres, artistas e professores qualificados entre nós. Mas a imigração mais pontual de estrangeiros para Portugal, não ser esquecida. Malgrado alguns exemplos raros de pouca consideração que muitos estrangeiros demonstraram para com os portugueses(2), é um facto que inúmeros outros ao longo dos séculos aqui se fixaram, tendo desempenhado um importante papel na formação e melhoria do país.

As épocas de expansão económica foram naturalmente aquelas que maior atracção provocaram na vinda de estrangeiros para Portugal. Assim aconteceu no século XIV a XVI, onde foram destacados mercadores, arquitectos, escultores, pintores, impressores, navegadores, etc., e tal modo foi o seu peso na sociedade portuguesa do século XVI que dos 100 mil habitantes que contava Lisboa em 1551, á volta de 7 mil eram estrangeiros[3]

Lisboa era uma cidade aberta ao mundo, se não o fosse não seriam possíveis as descobertas. A criação de colónias de estrangeiros eram a consequência natural deste movimento de abertura, como a dos flamengos nos Açores, ou as dos alemães, holandeses e ingleses de Lisboa. No século XVII e XVIII, a colónia espanhola embora muito importante tem sido ignorada, sobretudo a dos galegos. No entanto lá estão eles nos trabalhos sazonais das vindimas do Douro, ou até meados deste século em Lisboa e no Porto, onde o "Galego" tinha uma função  inconfundível "no quotidiano de lazer dos seus habitantes"[4].

A vinda dos estrangeiros , sobretudo nos séculos XV E XVI foi provocada pelas oportunidades de negócio que o pais oferecia com as descobertas, mas noutras alturas foi necessário recrutá-los para virem trabalhar para Portugal, para ajudarem a porem em marcha as manufacturas que o país carecia, para o seu desenvolvimento económico. Esta foi a situação do final do século XVII.  Mais do que estabelecer  aulas ou recrutar mestres no exterior, a implantação das manufacturas requeria a própria importação de grande numero de artifices para nelas trabalharem e de mestres para as dirigirem. Naturalmente que se esperava que com estes estrangeiros viesse também um capital precioso de conhecimentos técnicos que não deixaria de provocar os seus frutos no país.

A compreensão desta dinamica de renovação do país, foi claramente foi  exposta por Duarte Ribeiro Macedo, na sua relação - "Sobre a Introdução das Artes no Reyno"[5]. A situação económica que então  se vivia era calamitosa nas nossas trocas comerciais com a França, pois este país decidira suprimir as suas importações de Portugal seguindo as medidas preconizadas por Colbert. Se os franceses não compravam produtos portugueses (açucar , tabaco, lã de Espanha e pau-brasil), estes naturalmente deixavam de poder adquirir franceses franceses (sedas , panos, fitas, aguardentes, etc). Neste quadro só restavam aos portugueses três alternativas : "Pagar mercadorias em numerário; desenvolver outros comércios graças aos quais pudessem continuar a compra-las ; empreender na sua  nação a produção dos artigos que ali importavam"[6].

Apenas a ultima alternativa se mostrava viável e foi a tentada. Duarte Ribeiro Macedo que era então embaixador de Portugal em Paris , e profundo conhecedor da politica de Colbert e das novas manufacturas que definiu os principios a adoptar, que podemos em sintese resumir nos seguintes:

     1.Estabelecer no reino as manufacturas necessárias para substituir os produtos que importamos; Três industrias foram particularmente consideradas, nas medidas levadas a cabo por D. Luis de Meneses, os lanificios, os vidros e depois o ferro.

    2. Contratar em França os operários qualificados para assegurarem a instalação e laboração segundo os novos métodos.      De notar que foi o próprio Duarte Macedo que os embarcará no Havre em barcos holandeses e ingleses, e em alguns casos mesmo em barcos franceses com  destino a Portugal.

Se estas tentativas de implantar entre nós as manufacturas, nem sempre foram bem sucedidas, em grande parte pela falta de apoios que encontraram, nem por isso deixaram de deixar sementes que irão mais tarde germinar. Marques de Pombal irá seguir esta mesma estratégia, com maior êxito, mas fará associar a vinda destes estrangeiros á implantação de um sistema formativo, capaz de reproduzir nos nacionais os conhecimentos que os mestres estrangeiros traziam.

Em Construção ! 

Carlos Fontes

Navegando na Educação

Notas:

1]Miriam Halpern Pereira, in Algumas Observações Complementares Sobre a Politica de Emigração Portuguesa. Análise Social. Vol.XXV (108-109).1990.pag.738

[2] A cabeça dos quais estaria provavelmente Lorde Byron.

[3]. Maria Valentina Cotta do Amaral, Privilégios de Mercadores Estrangeiros no reinado de D. João III, Instituto de Alta Cultura. Lisboa.1965.

[4]M. Halpern Pereira, ob.cit.pag.738

[5]Sobre a Introdução das Artes no reyno.1675. Obras Inéditas do Doutor Duarte Ribeiro de Macedo. Tomo I. Lisboa.1817.Pag.1-102

[6]. Vitorino Magalhães Godinho, Ensaios II, pág.300.