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História da Formação Profissional em Portugal

Carlos Fontes

 

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Período Medieval 

Mosteiros

Para além das tendas como unidades produtivas impunham-se os mosteiros. As suas dimensões eram por vezes tão grandes que dificilmente  ainda hoje as avaliamos na sua extensão e organização interna. Um Estado dentro dos Estados era, por exemplo a Ordem de Cister que só no século XII, estabelecia uma vasto manto por toda a Europa abrangendo mais de  1000  mosteiros. As campanhas de obras das suas casas e igrejas, implicavam enormes estaleiros, onde se formavam novos oficiais e se aprendiam ou experimentavam novas técnicas construtivas ou outras. Mas a própria actividade quotidiana de um mosteiro era em si mesma uma forja de novos mestres. Algumas profissões estiveram mesmo em certas épocas particularmente ligadas a estas casas: copistas, médicos, boticários, doceiros,...

A primeira escola de medicina, por exemplo, surgiu entre nós num mosteiro, o de Santa Cruz de Coimbra[1]. No reinado de D. Sancho I, o prior de S. Agostinho e válido do rei, D. Gonçalo Dias, ordenou que um dos Cónegos Regrantes de S. Agostinho que ia estudar para Paris, aí cursa-se medicina, para a ler depois em Santa Cruz. Dando corpo a este projecto criava neste mosteiro um hospital. Tudo  indica que este estudante, D. Mendo Dias, seu sobrinho, tenha sido o primeiro a ensinar medicina ente nós. Este caso não foi único. 

A função assistencial destes estabelecimentos religiosos levou a que os mesmos desenvolvessem formas rudimentares de ensino da medicina, um tipo de formação que predominou até ao século XV, a chamada fase eclesiástica[2]

Entre os médicos de formação eclesiástica, destaca-se Pedro Julião ou Pedro Hispano, mais tarde Papa João XXI.  Se aquando da fundação dos Estudos Gerais em Lisboa em 1290,surge já entre o seu elenco de cursos o de medicina, os clérigos predominam e fazem uma simbiose de actividades ente a medicina e a sua actividade  religiosa. Ainda em 1416, encontramos á frente da cadeira de medicina da Universidade de Lisboa, o mestre João, sacerdote e um dos fundadores da Congregação dos Cónegos Sacerdotes de S. João Evangelista [3]

A situação começa apenas a alterar-se no século XV, devido á crescente predominância de médicos judeus.

A actividade dos boticários persistiu mais estreitamente ligada aos mosteiros, prolongando-se esta situação até ao século XIX.

Os copista são tradicionalmente associados aos "scriptorium" dos mosteiros, onde a actividade manual de copia de cada texto se exercia com regularidade. A invenção da imprensa no século XV se reduziu em parte esta actividade, não a acabou. A longa tradição á muito consolidada nos mosteiros demonstrou mesmo uma forte resistência aos novos processos de difusão no século XVI.  

Carlos Fontes

Navegando na Educação

 

Notas:

1) Maximiliano Lemos, História da Medicina em Portugal.1899.pag.5.

2 ) D. António da Costa , História da Instrução Popular, Lisboa.1871.pag.17.

3) Francisco de Santa Maria, Céu Aberto na Terra, Lisboa, 169.., pag.209.