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História da Formação Profissional e da Educação em Portugal

Carlos Fontes

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Período Medieval 

Literatura Técnica

A aprendizagem de um oficio era feita em regra sem outro suporte que não fosse a "palavra", ou o " exemplo" do mestre. Este facto deve-se em parte a muitos factores, entre eles a necessidade de preservar os "segredos" profissionais.

As primeiras obras sobre uma prática profissional ou um oficio, não se destinavam tanto a servirem de suporte para uma dada aprendizagem, mas sobretudo eram uma tentativa de registo de uma técnica ou conhecimento que se julgava fundamental.                       

Na antiguidade greco-romana encontramos um primeiro esforço de constituir um repositório técnico das praticas dos ofícios da altura. Entre os gregos, não nos podemos esquecer de autores como Aristóteles, que inspirou o célebre Liceu: o primeiro grande centro de investigação da antiguidade. No período aureo de Alexandria ( 330 - 200 a.C.), destaca-se o "Museu ", que mais do que um centro produtor, deu um contributo importante neste domínio para a preservação e organização do conhecimento. Destacam-se ainda autores como Euclides ( Geometria ), Arquimedes ( mecânica ), Galeno ( tratadista de obras médicas ),etc. Depois em Roma destacam-se Vitruvio ( Arquitectura ), Vírgilio ( as "Geórgicas", são ao tempo um verdadeiro  tratado de agronomia ), Plínio ( com a sua Enciclopédia ), Ctesibio ( Mecânica e Pneumática ), etc.

Na Idade Média , Isidoro de Sevilha , nas suas Etimologias traça a matriz do livro técnico do novo tempo: O tratado enciclopédico, onde o sagrado e o profano estão unidos numa mesma descrição, e onde os assuntos mais prosaico da construção, medicina e agricultura antecedem os mistérios da criação divina. Mas será a partir do século XII, como escreveu E. Gilson esta vocação enciclopedista medieval irá atingir a sua mais alta expressão : reunir numa obra descritiva uma síntese do saber, hierarquizado segundo a sua importância essencial.

Alguns códices tem contudo um acentuado carácter técnico, contemplando as actividades fundamentais  num tempo de fé: cores dos manuscritos, construção das catedrais, agricultura,  medicina,...

Erwin Panofski examinando alguns destes tratados sobre arquitectura, engenharia mecânica, lavra de metais e outras artes, de autores como Teofilo, Villard de Honnecourt, Jean de la Bégue e Nartin Roriczer, constatou que todos eles apresentam a mesma estrutura: estes textos medievais dão amplas e detalhadas instruções sobre o modo de "trabalhar, apresentam um vasto conjunto de regras, receitas e preceitos. mas, não tem uma "teoria" que nos ajude a compreender o trabalho que se realiza, e o possa fundamentar. Esta vertente está por completo ausente.

"Um tratado medieval de arquitectura", escreve Panosfki,"mostra as coisas que podem ser feitas e COMO devem ser feitas. Não faz nenhuma tentativa de explicar ao leitor POR QUE devem ser feitas dessa forma especifica, não tenta fornecer ao leitor uma série de conceitos gerais com os quais possa enfrentar os problemas não previstos pelo autor"[1].

Será necessário esperar pelo século XV, para que em Itália se processe uma revolução nesta elaboração dos manuais técnicos.

Em Portugal, avultam algumas obras técnicas entre os séculos XIII e o século XVI, que haverá que aqui registar:   

No século XIII , sobressaem  as obras médicas de Pedro Hispano, de que nos restam três obras que foram impressas posteriormente: Thesaurus Pauperum, que registou 83 edições até ao século Século XVIII; De Diaetis Uniuersalibus, De Diaetis Particularibus e De Urinis, impressas em Lião em 1515.[2]

No século XIV, segundo Jaime Cortesão destaca-se a única ou a mais notável obra de elaboração técnica deste século, o denominado "Almanaques de Madrid", existente na Biblioteca Nacional de Madrid: "Códice e fragmentos de códices portugueses da primeira metade do século XIV, quase todos de carácter tubular e didáctico,. obra juntamente de "astrologia judiciária", ou seja, para desvendar o futuro pela posição dos astros, e de ciência astronómica, onde se contém os princípios científicos para traçar o regimento das marés no Atlântico, assim como os elementos básicos da geografia matemática de Ptolomeu (....). Provavelmente , a parte didáctica desses códices serviu de manual na Universidade de Coimbra"[3]

No século XV, o "Leal Conselheiro " de D. Duarte, no qual este autor traça-nos um retrato maravilhado dos novos prodígios da técnica: os "vedores" de água, as bombardas ou "troo" "que com uma pouca de pólvora pode lançar tão grande pedra muito longe com tal força , do que nós já não pomos duvida", e outras maravilhas ( Capitulo

Carlos Fontes

Navegando na Educação

 Notas:

 1 ) E. (1) Panosfsky, The Life End Art Of A. Durer,    pag.243.

 2 ) Obras Médicas de Pedro Hispano, Coimbra. 1973.

 3 ) Jaime Cortesão, Os Factores Demograficos na Formação de Portugal.