Escolas, Saberes e Tecnologias

Carlos Fontes

 

Entre as funções que tradicionalmente continuam a ser atribuídas à escola, sobressai a de transmissora dos saberes que numa dada época são considerados socialmente úteis. Nos nossos dias, perante o papel algo hegemónico ocupado pelos meios de comunicação de massas nesta transmissão, esta função tem vindo a ser questionada.

O permanente fluxo de informação veiculado pelos meios de comunicação de massas, modificou consideravelmente o modo como passaram a ser encarados os sistemas tradicionais de educação, revelando as suas debilidades e forçando a sua mudança, nomeadamente através da ampliação do campo das actividades autodidácticas e acentuando o valor das atitudes activas e conscientes para a aquisição de conhecimentos.

A comunicação de massas, ao criar esta rede paralela e omnipresente de transmissão de saberes fez com que os alunos acedam naturalmente a fontes de saber fora do universo escolar, onde encontram outras formas de apresentação dos saberes que a escola veícula. Neste processo, a escola surge frequentemente aos olhos dos próprios professores como um espaço fechado e pouco estimulante, sentimento que é partilhado por toda a comunidade educativa. Na verdade, os professores passaram a confrontarem-se com alunos que já ouviram, ainda que de forma superficial quase tudo o que estes lhes tinham para dizer e mostrar.

As reacções dos professores, face a esta nova realidade, tem-se centrado em volta da questão das novas tecnologias de informação, que são globalmente consideradas as grandes responsáveis pela desvalorização do papel das escolas e até da perda de prestígio dos docentes. As posições não são todavia unânimes.

Uns sentem-se fascinados pelas novas tecnologias, pretendendo encontrar nelas a "chave" para os seus problemas, julgando que basta a "massificação" do seu emprego no ensino para que surjam automaticamente relações pedagógicas mais estimulantes.

Outros olham-nas com desconfiança ou até receio. Acusam os seus criadores de estarem a contribuir para brutalizar os jovens, gerando uma pseudo-cultura de superficialidades destituída de valores.

Uma coisa é certa, as novas tecnologias de informação vieram para ficar, e é um dado adquirido que temos que apreender a lidar com elas, não apenas como utilizadores, mas sobretudo como cidadãos. Elas são mais do que ferramentas, estruturam hoje as novas formas de poder, saber, mas também de pensar.

É neste sentido que importa clarificar, algumas questões:

- Qual a relação da escola com estas novas fontes de informação?

- Quais as novas funções da escola e dos professores numa sociedade onde já não são os principais detentores do saber, nem sequer da sua transmissão ?

É neste contexto alargado que urge o repensar a escola, só como um lugar de transmissão de saberes, mas cada vez mais com local de reflexão sobre os distintos saberes que circulam na sociedade e os seus protagonistas. Nesta teia complexa, onde as escolas estão inseridas, e com as quais dialogam e interagem, as funções do professor têm que ser reequacionadas. É ponto assente que sem a adesão dos professores nenhuma mudança é possivel. Aquilo que pensam, acreditam e fazem ao nível da sala de aula é que dá forma, em última análise, ao tipo de aprendizagem oferecida aos alunos. O modelo do "professor-reflexivo" é seguramente um bom ponto de partida. Perante a incerteza como regra de vida, há que permanentemente construir, elaborar e verificar as teorias pessoais sobre o mundo. Mas não isolemos demasiado o trabalho do professor. A redefinição das suas funções são inseparáveis das atribuidas à própria escola na actual sociedade. Voltaremos ao tema.

Carlos Fontes

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