O fim do professor-caixeiro-viajante foi durante décadas um dos combates mais importantes pela dignificação da profissão docente. O sistema educativo vivia da exploração dos professores "provisórios", obrigando-os  a uma verdadeira via sacra pelo país antes de lhes conceder a possibilidade de se puderem efectivar.

Para as escolas esta realidade significava a precaridade dos seus projectos educativos. Todos os anos eram obrigadas a recomeçar tudo de novo. Ainda hoje se associa a estabilização  do corpo docente como a condição necessária e suficiente para a melhoria da qualidade do ensino.

Esta relação de causa-efeito é todavia mais aparente que real. A informação que tem vindo a público sobre os resultados da avaliação permite aliás constatar que não existe uma correspondência evidente entre a estabilização do corpo docente e a qualidade dos resultados escolares. Podem ser muitas as interpretações deste fenómeno.

Recordo-me da que dava um velho amigo meu, professor num antigo liceu  de Lisboa, para quem a excessiva permanência dos professores efectivos numa mesma escola não deixava de ter efeitos perversos: 

1. Com o tempo tendem a fecharem-se em grupos de interesses e cumplicidades. Os que chegam com estatuto provisório são marginalizados, pois "não compensa investir em quem está de passagem".  Dado os múltiplos interesses instalados, as mudanças são sentidas como se fossem ameaças.  

2. As suas prerrogativas nomeadamente em termos de escolha de horários, são rapidamente rentabilizadas no desempenho fora da escola outras actividades profissionais com carácter regular. Muitas vezes a escola torna-se num mero complemento na remuneração efectivamente auferida. Os baixos vencimentos dos professores estimulam aliás esta situação.  

3. A longa permanência numa dada escola, tende igualmente a que a mesma seja vista como "o melhor dos mundos possíveis", uma realidade que se basta a si própria.

A simples comparação com outras escolas tende a ser encarada com alguma resistência, e sempre na defensiva. Dir-se-á que a maioria dos professores efectivos não se incluem nesta caricatura, e que apesar de tudo ela é preferível à situação de anterior. Estamos de acordo, mas porque não mudar um pouco?

Carlos Fontes

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