Numa sociedade marcada pela incerteza a ciência tornou-se no último reduto onde se espera encontrar a Verdade para tudo o que inquieta ou não se encontra uma explicação imediata. Esta crença ingénua no conhecimento científico tem permitido apaziguar as consciências angustiadas. A receita é simples: - basta-lhes evocar uma qualquer teoria ou mesmo uma mera hipótese de trabalho, e acrescentar a palavra mágica de que se trata de algo "científico".

O discurso científico está hoje, ao nível do senso comum, revestido de uma tal dimensão mítica, que muitas das explicações provadas em casos particulares são rapidamente transformados nas causas essenciais de problemas muitíssimo mais complexos.

Perante este discurso dominante, a angustia transforma-se em resignação, a atitude crítica em conformismo. Algo semelhante está a  acontecer hoje nas escolas.

Os professores estão a abdicar de pensarem sobre a realidade multifacetada com que todos os dias se confrontam. Anseiam por encontrar nas ciências pedagógicas ou na simples opinião de investigadores universitários, a receita ou a teoria que lhes resolva os seus problemas quotidianos. Ao fazê-lo, tendem a reproduzirem de uma forma acrítica teorias ditas científicas, e sobretudo,  afastam-se cada vez mais da realidade vivenciada nas escolas.

Carlos Fontes

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